segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Nova descoberta aponta que dinossauros com penas viveram no Polo Sul

Penas fossilizadas são encontradas na Austrália Imagem: Reprodução/NatGeo/MELBOURNE MUSEUM

Dez fósseis preservados de penas encontrados na região de Koonwarra, na Austrália, representam a primeira evidência que dinossauros com penas viveram nos polos da Terra, apontaram paleontologistas em novo estudo que será divulgado no jornal Gondwana Research. As penas têm 118 milhões de anos e são do começo do período Cretáceo, quando a Austrália era localizada mais ao sul e se juntava à Antártida no Polo Sul do planeta. Segundo a pesquisa, mesmo que o clima fosse mais quente do que atualmente na Antártida, os dinossauros devem ter desenvolvido penugem para enfrentar épocas mais frias.

"As penas fósseis nunca foram encontradas em ambientes polares antes", diz o co-autor do estudo, Benjamin Kear, paleontologista da Universidade de Uppsala, na Suécia. "Nossa descoberta mostra pela primeira vez que uma grande variedade de dinossauros emplumados e pássaros primitivos capazes de voar habitavam as antigas regiões polares". Ossos fossilizados já foram encontrados nos extremos do planeta, mas nunca a presença de penas. Fósseis de uma espécie extinta de pinguim que indicava penas foi encontrada no Peru, mas tinham apenas 36 milhões de anos, quando a região ainda se encontrava ainda mais ao norte.

Encontrar penas no período Cretáceo nesta parte da Austrália é, portanto, uma pista vital para os muitos usos que os animais antigos encontraram para essas distintas coberturas corporais, desde o acasalamento até o voo. Nesse caso, as penas podem ter sido importantes para o isolamento, permitindo que pequenos dinossauros carnívoros sobrevivessem aos difíceis meses de inverno.

Fonte: UOL

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Fóssil de um dos dinossauros mais antigos do mundo é descoberto no Rio Grande do Sul

Gnathovorax significa mandíbulas vorazes, característica que reforça o perfil de caçador do dinossauro


TV CAMPUS/UFSM/REPRODUÇÃO/JC

O Rio Grande do Sul acrescentou mais um registro ao seu currículo de habitat de dinossauros. O grupo de pesquisa que reúne Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade de São Paulo (USP) divulgou que encontrou um esqueleto da espécie Gnathovorax cabreirai, com origem de aproximadamente 230 milhões de anos.

A descoberta, feita em escavações em 2014 em São João do Polêsine, na região Central do Estado, foi publicada no periódico internacional PeerJ. Segundo os pesquisadores da UFSM e USP, o fóssil achado é um dos mais antigos do mundo. 

Esqueleto na rocha mostra a descoberta em escavações em 2014 no Centro do Estado. Foto: UFSM/Divulgação
O esqueleto do animal revelou dentes pontiagudos e munidos de serrilhas, assim como garras longas nos dedos das mãos, que ajudavam a capturar as presas da espécie, esclarecem os pesquisadores. As características revelam o perfil de caçador do animal, reforçada pelo nome Gnathovorax, que significa mandíbulas vorazes. Já cabreirai é uma referência ao paleontólogo Sérgio Furtado Cabreira, que coordenou os trabalhos da descoberta em 2014.

Ainda que fosse de estatura menor em comparação com predadores mais conhecidos da era Mesozoica (compreendida nos períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo), como o Tiranossauro Rex, o Gnathovorax cabreirai era "seguramente, um dos maiores carnívoros do seu ambiente", informam os pesquisadores.

A pesquisa foi conduzida pelo estudante de pós-graduação em Biodiversidade Animal da UFSM Cristian Pereira Pacheco, pelos paleontólogos Rodrigo Temp Müller, Leonardo Kerber, Flávio Pretto e Sérgio Dias da Silva, também da UFSM, e pelo paleontólogo da USP Max Cardoso Langer. O responsável por realizar a reconstrução do fóssil foi o paleoartista Márcio Castro.

O fóssil pode ser visitado no Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa/UFSM), em São João do Polêsine, onde está em exposição. O Cappa fica aberto de segunda-feira a sábado, das 9h às 12h e das 13h30min às 17h, com entrada gratuita.

Fonte: Jornal do Comércio

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Vértebra de dinossauro é encontrada no interior de SP

Fóssil encontrado em Uchoa (SP) já está em fase final de preparação e ficará exposto no Museu de Paleontologia Pedro Candolo.

Por Carolina Paschoalon*

Vértebra de dinossauro é encontrada no interior de SP — Foto: Arquivo Pessoal

Uma vértebra de dinossauro foi encontrada na zona rural de Uchoa (SP) por um biólogo e um paleontólogo durante uma expedição em busca de fósseis da espécie na região. A vértebra seria uma parte da cauda e foi encontrada pela dupla no dia 5 de outubro. A divulgação da descoberta foi feita nesta semana.

Segundo o biólogo Leonardo Silva Paschoa, ele e a equipe do Museu de Paleontologia Pedro Candolo, de Uchoa, estavam em uma expedição em uma área que há mais de 100 milhões de anos era terra dos dinossauros. 

“Em um barranco tem uma rocha que é da formação muito antiga, então era onde eles [dinossauros] ficavam. Nós sempre voltamos ao local para fazer buscas”, contou o biólogo.

  De início, Leonardo pensou que se tratava de uma pedra, mas quando ele e os amigos escavaram a rocha, perceberam que se tratava de uma vértebra de dinossauro.

O pedaço ósseo de dinossauro foi levado para o laboratório do museu para análise, onde foi constatado que se tratava de 20 centímetros da cauda de um titanossauro.

"É muito comum encontrar fóssil dessa espécie na região. Já encontramos outras vértebras, partes do braço. Vamos agora tentar montar uma arte de como seria essa espécie", diz Leonardo.

A espécie é conhecida por ter um pescoço longo e é herbívoro. O fóssil já está em fase final de preparação e ficará exposto no Museu de Paleontologia Pedro Candolo, em Uchoa.

Biólogo Leonado Paschoa com fóssil de titanossauro — Foto: Arquivo Pessoal 

Região tinha o Thanos

Em Uchoa há um museu de paleontologia porque na região há um sítio arqueológico que vem sendo descoberto pelos pesquisadores. Uma das descobertas mais recentes, foi a de uma nova espécie de dinossauro, batizada de Thanos Simonattoi.

Thanatos é um termo grego que personifica a morte e que também dá nome ao vilão Thanos, da franquia de quadrinhos Marvel. Já Simonattoi é uma homenagem ao sitiante Sérgio Simonatto, que ajudou a encontrar o fóssil.

Esta descoberta foi divulgada em dezembro do ano passado. Segundo os pesquisadores, Thanos Simonattoi tinha cerca de 5 metros de comprimento e disputava com outros carnívoros o topo da cadeia alimentar na região de Ibirá há 80 milhões de anos.

A descoberta consiste na primeira espécie descrita para a região de Ibirá e também de dinossauro carnívoro conhecida para o cretáceo da região sudeste.

Dinossauro recém-batizado foi encontrado na região de Rio Preto — Foto: Divulgação 

Fonte: Portal G1

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Fósseis de dinossauro carnívoro com dentes de tubarão são encontrados na Tailândia

 Animal tinha mais de 9 metros de comprimento e pesava ao menos 3,5 toneladas.

Por Reuters

Reconstrução de cabeça de dinossauro por meio de fóssil encontrado na Tailândia — Foto: Soki Hattori and Duangsuda Chokchaloemwong/Handout via Reuters 

Fósseis de um grande dinossauro carnívoro que era um imponente predador há cerca de 115 milhões de anos foram desenterrados na Tailândia. A descoberta ajuda a entender o animal que está entre os primeiros membros de um grupo de dinossauros conhecidos por seus dentes similares a de tubarões, usados para rasgar carnes.

Cientistas afirmaram nesta quarta-feira (9) que o dinossauro, chamado Siamraptor suwati, tinha mais de 9 metros de comprimento e pesava ao menos 3,5 toneladas.

O Siamraptor, maior dinossauro carnívoro já descoberto na Tailândia, viveu durante o período cretácico em um ambiente centrado em um sinuoso sistema fluvial e se alimentava de dinossauros herbívoros, disseram os pesquisadores.

O paleontólogo Duangsuda Chokchaloemwong, da Universidade Nakhon Ratchasima Rajabhat e do Museu de Fósseis Khorat, na Tailândia, disse que esqueletos parciais de quatro dinossauros da espécie foram encontrados em Korat, na Tailândia.

Os fósseis incluem partes do crânio, espinha dorsal, membros, quadris e dentes. 

"O Siamraptor é o maior predador neste ambiente e, logo, pode ser o maior predador daquele período no tempo", disse o paleontólogo Soki Hattori, da Universidade da Prefeitura de Fukui e do Museu de Dinossauros da Prefeitura de Fukui, no Japão.

Fonte: Portal G1

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

O dia em que o mundo dos dinossauros veio abaixo

Cientistas fazem uma reconstituição dos segundos, minutos e horas após o impacto do asteroide que dizimou os antigos habitantes do planeta.

Por BBC 

Ilustração mostra o impacto do asteróide, que deve ter desencadeado ondas gigantescas — Foto: Barcroft Productions/BBC 


Cientistas têm um registro do pior dia da Terra – ou, pelo menos, o pior nos últimos 66 milhões de anos. 

Ele está num trecho de 130 metros de uma rocha retirada do Golfo do México. 

Esses são sedimentos depositados logo após um imenso meteoro se chocar com o planeta. 

Você deve saber do que estamos falando: do evento que cientistas consideram ter causado a extinção dos dinossauros e a ascensão dos mamíferos. 

A rocha que conta essa história foi resgatada por uma equipe liderada por americanos e britânicos, que passaram várias semanas em 2016 cavando na cratera aberta pelo impacto. 

Hoje, essa estrutura com 200 km de diâmetro fica embaixo sob a península de Yucatán, no México. Suas partes mais preservadas estão bem próximas ao porto de Chicxulub. 

A equipe retirou várias porções da rocha, mas é esta seção com 130 metros que documenta o primeiro dia do que geólogos conhecem por Era Cenozóica, também chamada por outros de Idade dos Mamíferos. 

O impacto que mudou a vida na Terra

Um objeto com 12 km de diâmetro abriu um buraco de 100 km de largura e 30 km de profundidade na superfície da Terra. 

Essa fenda então colapsou, deixando uma cratera de 200 km de largura e alguns quilômetros de profundidade. Houve um novo desabamento no centro da cratera, formando um anel interno.

  Hoje, boa parte da cratera está sob o solo do mar, abaixo de 600 metros de sedimentos. A parte em terra está hoje coberta por rochas calcárias, e sua borda é marcada por um arco de cavernas.

O trecho da rocha é um combinado de materiais estilhaçados, mas seu conteúdo está disposto de tal forma que cientistas dizem ser capazes de perceber uma narrativa clara.

Os últimos 20 metros são dominados por destroços que lembram vidro. Essa é a rocha que foi derretida pelo calor e pela pressão do impacto. Ela escorreu pela base da cratera segundos e minutos após o choque.

Em seguida, há um trecho de rocha derretida fragmentada - formado por explosões conforme a água jorrava pelo material quente.

A água vinha do mar raso que cobria a área naquela época. Ela foi expulsa temporariamente pelo impacto, mas, quando voltou e entrou em contato com a rocha incandescente, gerou violentos fenômenos. Algo similar ocorre em vulcões, quando o magma interage com a água do mar.

Essa fase transcorreu durante uma hora. Conforme a água continuava a fluir para a cratera, e um monte se formou no centro do buraco com destroços carregados pela água. Grandes fragmentos foram acompanhados por materiais mais e mais finos.

Esse processo transcorreu nas primeiras horas depois do impacto.

Depois, bem no topo da seção retirada da cratera, há sinais de um tsunami. Os sedimentos afundaram numa só direção, e sua organização indica que eles foram depositados por um evento de grande energia.

Cientistas dizem que o impacto gerou uma onda gigantesca que deve ter avançado centenas de quilômetros terra adentro. Essa onda acabou por voltar - e os destroços carregados por ela cobrem o topo da rocha extraída do fundo do mar pelos pesquisadores.

Explosão de enxofre

"Isso tudo foi no dia 1", diz o professor Sean Gulick, da Universidade do Texas em Austin. "Tsunamis se moveram na velocidade de um jatinho. Vinte e quatro horas são uma quantidade suficiente de tempo para que as ondas tenham entrado e saído repetidamente", ele disse à BBC News. 

A equipe de Gulick acredita na explicação sobre o tsunami porque, misturado com os depósitos extraídos, há sinais de solo e carvão - evidências dos grandes incêndios que teriam surgido pelo calor gerado pelo impacto –, tudo transportado para a cratera pelas ondas.

Estranhamente, o que os cientistas não encontraram em nenhum ponto da rocha extraída foi a presença de enxofre. É uma surpresa, porque o asteroide teria se chocado com um fundo do mar composto por até metade de minerais que contêm enxofre.

Por algum motivo, o enxofre deve ter sido ejetado ou vaporizado. Mas isso apenas reforça a teoria atual sobre como os dinossauros tiveram um fim.

O enxofre misturado à água e despejado na atmosfera pode ter reduzido dramaticamente a temperatura, tornando a vida difícil para todos os tipos de plantas e animais.

A injeção de bilhões de toneladas de enxofre no ar causou uma queda de 25 graus Celsius na temperatura por pelo menos 15 anos, fazendo com que a maior parte do planeta congelasse, diz Gulick.

A emissão de enxofre foi muitas vezes superior ao que um vulcão como o Krakatoa é capaz de fazer, também gerando uma diminuição periódica da temperatura.

Os mamíferos emergiram a partir dessa calamidade. Os dinossauros ficaram para trás. 

Fonte: Portal G1

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Assim foi o primeiro dia na Terra depois do asteroide que acabou com os dinossauros

Um estudo reconstitui minuto a minuto o que se passou há 66 milhões de anos, graças a um cilindro de rocha extraído da zona do impacto

O cilindro de sedimentos foi extraído de aproximadamente 1.300 metros sob o leito marinho e estudado por segmentos.Foto: ECORD/IODP Vídeo: Reuters/Next Animation Studio

Cerca de 66 milhões de anos atrás, um milênio a mais ou a menos, um asteroide atingiu a Terra no que hoje é o Golfo do México. O choque foi de tal magnitude que a teoria dominante entre os cientistas indica que causou o desaparecimento de 75% da vida, a começar pelos dinossauros. Agora, o estudo de um cilindro de rocha extraído da cratera causada pelo impacto permitiu reconstituir minuto a minuto que se passou há tanto tempo. E foi um verdadeiro inferno.

Em 2016, a Expedição 364 à cratera Chicxulub, no noroeste da Península de Yucatán (México), perfurou a zona de impacto. Não cavaram na parte central, mas na borda externa da cratera. Extraíram um cilindro rochoso de uns 1.334 metros abaixo do fundo do mar. Segmentado em partes, seu estudo por um grande grupo de geólogos e cientistas de outros campos conta a história em capítulos tão precisos como os dos anéis de árvores ou núcleos extraídos do gelo, embora milhões de anos se tenham passado.

“É uma das vantagens com as crateras de impacto. Sua formação segue leis físicas muito bem definidas", diz o pesquisador do Centro de Astrobiologia/CSIC e coautor do estudo, Jens Olof Ormö. "Podemos reconstituir uma sequência de eventos [por exemplo, ver quais sedimentos seguem um acima do outro]. Pelo tipo de sedimento [tamanho dos clastos (fragmentos), tipo e classificação], podemos saber se o depósito foi rápido ou lento, e aproximadamente o tempo que isso levou", explica.

Em Chicxulub, o impacto do asteroide liberou uma energia equivalente à de 10 bilhões de bombas como a de Hiroshima. Volatilizou enormes quantidades de material. Estudos anteriores estimaram que liberou na atmosfera 425 gigatoneladas de CO2 e outras 325 de sulfuretos (uma gigatonenada equivale a 1 bilhão de toneladas métricas). Um penúltimo dado: o tsunami subsequente levou água do Caribe para os Grandes Lagos do norte dos Estados Unidos, a cerca de 2.500 quilômetros da zona de impacto.

Mas o que mais interessou aos geólogos foi a rapidez com que a maior parte da cratera foi preenchida com os restos do choque brutal. Estima-se que em apenas 24 horas o buraco tenha sido coberto com uma camada de cerca de 130 metros de sedimentos, que são os que eles estudaram agora. Aí está escrita a história do primeiro dia de vida na Terra após o impacto. Aí os geólogos estabelecem a divisão entre duas eras, a do mesozoico e a do cenozoico atual. E é aí que quase tudo indica que começou a extinção dos dinossauros e o surgimento dos mamíferos.

Plataforma a partir da qual a cratera Chicxulub foi perfurada.University de Texas en Austin

Segundo o estudo, publicado na PNAS, os 40-50 metros inferiores, formados por rochas fundidas e fragmentárias (lacunas) se depositaram minutos após o impacto. Uma hora mais tarde teria surgido outra camada de cerca de 10 metros, composta de suevite, rochas de vidro e outros materiais fundidos. Horas depois, outros 80 metros foram preenchidos com sedimentos mais finos. No final do dia, o refluxo da água retirada com o impacto arrastou até ali enormes quantidades de material da região e áreas muito remotas.

Entre os últimos sedimentos, os pesquisadores encontraram uma grande quantidade de material orgânico, especialmente um rastro de fungos e muito carvão vegetal. Isso deve ter vindo dos restos dos incêndios causados pelo impacto e pela queda de materiais incandescentes nas florestas de centenas de quilômetros ao redor.

"Com um asteroide de 12 quilômetros atingindo Yucatán, os efeitos locais devem ter sido catastróficos e provavelmente também em distâncias de até 1.500 quilômetros do impacto, onde o impacto térmico pode ter provocado a queima das árvores. Em distâncias maiores, o material ejetado também teria causado incêndios por atrito à medida que caía na atmosfera. Mas esses efeitos devem ter sido de curta duração e não podem explicar a extinção global de 75% da vida", diz em um e-mail, o principal coautor do estudo, o professor do Instituto de Geofísica da Universidade do Texas (EUA), Sean Gulick.

Essa parte da história começou naquele dia, mas deve ter durado anos. Na rocha extraída das bordas internas da cratera Chicxulub há uma notável ausência de materiais sulfurosos. Não há vestígios de enxofre na área e o momento do impacto, embora as rochas ricas em sulfeto sejam abundantes. Esses dados reforçam a teoria de que o asteroide expeliu enormes quantidades de sulfetos na atmosfera, impedindo a radiação solar e resfriando o planeta. As simulações indicam que a temperatura média global caiu 20 graus e assim permaneceu durante uns 30 anos.

"Estamos diante de evidências empíricas da conexão entre o impacto do asteroide e a grande extinção", diz o pesquisador da UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México) e um dos líderes do grupo de pesquisa, Jaime Urrutia, que está estudando a cratera de Chicxulub há várias décadas. Para ele, a grande contribuição deste trabalho é a resolução temporal que oferece sobre a sequência de eventos que se seguiram a um impacto ocorrido há 66 milhões de anos e que marcou o destino do planeta.

Fonte: El País

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Encontrada uma nova espécie de lagarto no estômago de um dinossauro

O lagarto teria uma cauda maior do que o corpo e um grande espaço entre os dentes.

Reconstituição do Microraptor a comer o lagarto (Doyle Trankina)

No início do período Cretácico, há cerca de 120 milhões de anos, um Microraptor comeu de uma só vez um lagarto. Durante milhões de anos, esse lagarto ficou (quase todo) no estômago desse dinossauro alado. Esta quinta-feira, além de nos revelar esta imagem, uma equipa de cientistas da China desvenda na revista científica Current Biology que o lagarto pertence a uma espécie desconhecida até agora – a Idrasaurus wangi – e que é bem diferente dos lagartos actuais.

Não se sabe bem, mas os fósseis do Microraptor e do lagarto no seu abdómen deverão ter sido descobertos em 2005 (ou ainda mais cedo) por um agricultor local que os terá desenterrado da formação geológica de Yixian (no Nordeste da China) para os vender ao Museu Natural Tianyu de Shandong, também na China.

O lagarto no abdómen do Microraptor (Jingmai O'Connor)

Agora, uma equipa conduzida por Jingmai O'Connor, paleontóloga da Academia Chinesa de Ciências, estudou melhor o lagarto dentro do dinossauro e percebeu que é uma nova espécie para a ciência, a Idrasaurus wangi. Idrasaurus é uma referência ao deus Indra da civilização védica, que foi engolido por um dragão e que neste caso é o Microraptor, um dinossauro que tinha penas nas patas dianteiras e traseiras e na cauda, o que lhe permitia planar, segundo um comunicado da Academia Chinesa de Ciências. Já wangi é uma homenagem ao páleo-herpetologista chinês Yuan Wang. “É uma grande pessoa e tem um grande sentido de humor”, assinala ao PÚBLICO Jingmai O'Connor.

Como não foi encontrado inteiro e estava enrolado no estômago do dinossauro, supõe-se que este lagarto teria entre dez e 15 centímetros de comprimento, a cabeça mediria três centímetros e a cauda seria maior do que o corpo. “Deveria ter uma cauda muito longa e estranha, assim como um grande espaço entre os dentes”, descreve a paleontóloga.

Uma Pompeia animal preservada na China

Não era semelhante a nenhum lagarto actual. Através de uma análise filogenética a lagartos do Cretácico, verificou-se que era mais parecido com os outros lagartos do Cretácico do que com os lagartos actuais.

Mesmo assim, também era diferente dos outros lagartos do Cretácico. A sua grande característica diferenciadora seriam mesmo os dentes, que eram muito distintos dos dentes dos outros lagartos da Biota de Jehol, conjunto de organismos vivos de formações geológicas no Nordeste da China do início do Cretácico. A equipa sugere que o Idrasaurus wangi tinha assim os dentes porque deveria ter uma dieta diferente dos restantes lagartos desse período geológico.

O quarto com comida

Mas como terá sido feita esta refeição do Cretácico? Como o lagarto estava quase completo, o Microraptor terá engolido o Idrasaurus wangi inteiro e com a cabeça virada para o estômago. “Esta é a primeira vez que encontrámos um fóssil de um Microraptor que tinha ingerido um lagarto – vestígios tão directos de dieta são muito raros no registo fóssil, mesmo nos fósseis excepcionais da Biota de Jehol”, refere Jingmai O'Connor.

Aliás, dos 200 exemplares completos de Microraptor encontrados até hoje, apenas quatro tinham conteúdo no estômago, nomeadamente aves, peixes e pequenos mamíferos. “Já sabíamos que o Microraptor era um predador oportunista, ou seja, comia tudo o que apanhava, mais ainda faz mais sentido termos a prova de que comeu um pequeno lagarto”, frisa a paleontóloga sobre esta refeição com milhões de anos.

Fonte: Portal Público (PT)

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Brasil é berço de pelo menos 27 espécies de dinossauros

Reprodução do UOL
Por Stefhanie Piovezan

Volte no tempo alguns milhões de anos, e não é preciso ir à Ilha Nublar, o local fictício da série Jurassic World, para se deparar com animais pré-históricos que pesam o equivalente a até três elefantes. Antes da queda do asteroide que dizimou os dinossauros, 66 milhões de anos atrás, o parque dos dinossauros era por aqui.

Paleontólogos já identificaram pelo menos 27 espécies de dinossauros que pisaram no que corresponde, hoje, ao território brasileiro.

Como, naquela época, os continentes estavam conectados, uma espécie poderia se espalhar do Rio Grande do Sul à Alemanha, pisando terra firme. Alguns dinossauros, aliás, fizeram isso: parentes próximos do Unaysaurus tolentino, espécie da região de Santa Maria (RS), foram descobertos em território alemão.

Com as evidências paleontológicas coletadas até agora, os pesquisadores acreditam que os animais fizeram o trajeto Brasil – Europa, e não o contrário. Na região que corresponde à área que vai do Rio Grande do Sul à Argentina, é grande a concentração dos fósseis mais antigos do planeta, o que sugere que os dinossauros podem ter surgido por aqui.


Até agora, os cientistas identificaram em território gaúcho oito espécies com idades que podem variar de 237 a 208,5 milhões de anos.

“Eles podem ter ocupado todo Centro-Sul da América do Sul, mas esse material não se preservou”, diz Max Langer, da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.

No Rio Grande do Sul, ao contrário, se formou um pacote rochoso a partir dos sedimentos que soterraram essas espécies, protegendo partes de seus esqueletos das intempéries.


Mundo triássico: Brasil tinha mais

O paleontólogo Rodrigo Miloni Santucci, da Universidade de Brasília, conta que o Triássico foi um momento de transição: o mundo deixou de ser tão marinho e passou a ser mais seco. Nesse período surgem os primeiros dinossauros do Brasil e do planeta.

Em um cenário semiárido, com alguns rios, viveram dinossauros como o Pampadromaeus barberenai (ilustração ao lado), de pouco mais de um metro de comprimento, o Buriolestes  schultzi, de 1,5 metro, e o Bagualosaurus  agudoensis, de até 2,5 metros. Os fósseis foram localizados na região de Santa Maria (RS).

Depois deles, no período Jurássico, há uma lacuna e não se sabe qual era a fauna nessa parte do globo. “No Brasil, há poucas rochas sedimentares do Jurássico. Havia grandes desertos que poderiam limitar a distribuição geográfica dos dinossauros e, consequentemente, diminuir o processo de fossilização desses animais nas rochas sedimentares”, explica Bittencourt.

Rodolfo Nogueira/Reprodução

Retratos do passado

Segundo Langer, enquanto nossos fósseis triássicos estão entre os mais importantes do mundo por retratarem o surgimento dos dinossauros, os exemplares mais recentes, do Cretáceo, se destacam pelo estado de conservação. Foi possível, por exemplo, reconstituir um esqueleto de Maxakalissauro (foto acima), gigante que chegava a 20 metros de comprimento, encontrado no interior de Minas Gerais.

Os fósseis também nos ajudam a entender uma etapa importante do planeta: a separação dos continentes e a diversificação das espécies.

“Dados geológicos indicam que África e América do Sul ficaram unidas até cerca de 100 milhões de anos atrás. Isso é confirmado pela descoberta de dinossauros similares no Norte e no Nordeste do Brasil e no Norte da África”, diz Bittencourt.

Nesse período após o triássico, os dinossauros ocuparam diferentes partes do Brasil, incluindo áreas do Nordeste, do Centro-Oeste e do Sudeste. Esses animais chegavam a alcançar 40 metros de comprimento.

Dinossauros Made in Brazil

Protetor do Sertão – O Angaturama limai habitava a região que, hoje, corresponde ao limite de Ceará e Pernambuco, em pleno sertão. Viveu há cerca de 110 milhões de anos e comia principalmente peixes. Com 6 metros de comprimento e 2 metros de altura, os paleontólogos acreditam que o animal tinha braços grandes e fortes – daí o nome “angaturama”, que em tupi quer dizer “espírito protetor”.

Imagem: Rodolfo Nogueira/Divulgação

O gigante da Amazônia – Com 10 metros de comprimento, o Amazonsaurus maranhensis habitou a área conhecida pelos geólogos como Formação Itapecuru-Maranhão, a cerca de 200 quilômetros de São Luís (MA). O dinossauro viveu entre 125 a 100,5 milhões de anos atrás. Chegava a pesar 15 toneladas e era herbívoro.

Imagem: Rodolfo Nogueira/Divulgação

Um titã Made in Brazil – O Brasilotitan nemophagus é um titanossaurídeo – herbívoro de quatro patas. Estima-se que esteve por aqui há 90 milhões de anos, na chamada formação Adamantina – região entre o noroeste paulista e o sul de Minas. Com cerca de 5 metros de comprimento, 3 de altura e 5 toneladas, é considerado um dos menores do grupo dos saurópodes.

Imagem: Rodolfo Nogueira/Divulgação 

Identidade Regional

“Tão maravilhoso quanto os próprios dinossauros é tudo o que eles nos ensinam sobre a nossa pré-história”, opina o paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, que recentemente lançou um livro com o paleoartista Rodolfo Nogueira sobre os dinos brasileiros. São de Nogueira as ilustrações de dinossauros presentes nesta reportagem.

Natural de Uberaba, Nogueira afirma que, entre todas as espécies nacionais retratadas, o Uberabatitan ribeiroi é seu favorito por conta do tamanho – chegava a 25 metros – e por ter sido encontrado perto da sua cidade. Daí o nome: Uberaba, “titan”, devido às dimensões, e ribeiroi como uma homenagem ao paleontólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro.

A nomenclatura de vários dos dinossauros brasileiros remete a locais e profissionais da paleontologia. Santucci, que participou da definição de nomes em três casos, explica que o Adamantisaurus mezzalirai, por exemplo, que chegava a 12 metros, foi batizado assim por conta da região em que foi achado – a formação Adamantina – e como homenagem a Sérgio Mezzalira, uma referência na área.

“Geralmente, o nome da espécie é uma homenagem, faz referência a uma localidade ou a uma característica”, diz.

O Brasil ainda pode guardar resquícios de outros dinossauros, ainda por descobrir. Eles podem estar, por exemplo, em locais de mata densa.

Áreas já mapeadas têm potencial de revelar novos animais. “Todo o interior de São Paulo pode de ter fósseis, por isso é preciso procurar constantemente e revisitar as áreas a cada um ou dois anos”, diz Santucci.

Os pesquisadores aguardam o período de chuva, que pode lavar o solo e expor novas faixas. Eles também costumam visitar áreas de duplicação de estradas, em que a grande movimentação de terra pode trazer à tona camadas mais profundas.

“Temos muita coisa para pesquisar ainda, há muitas perguntas. Como os dinossauros chegaram a um tamanho tão gigantesco, quanto tinham que comer para sobreviver?”, exemplifica Santucci.

“Do que já foi coletado, falta uma porção pequena ser analisada. É importante continuar a coletar e fazer o monitoramento. Há muito mais enterrado do que nas gavetas”, afirma Langer.

Fonte: IMPA e Portal Uol

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Pesquisadores descobrem espécie inédita de dinossauro no noroeste do Paraná

Nova espécie foi batizada de Vespersaurus paranaensis. Resultados das pesquisas foram apresentados nesta quarta-feira (26), em Maringá.

Por RPC Maringá

Pesquisadores descobriram uma espécie inédita de dinossauro que viveu na região noroeste do Paraná há 90 milhões de anos. O fóssil foi encontrado em um sítio paleontológico de Cruzeiro do Oeste por pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM), da Universidade de São Paulo (USP) e do Museu Paleontológico de Cruzeiro do Oeste . A novidade foi anunciada nesta quarta-feira (26).

A descoberta comprova que dinossauros habitaram a região noroeste do estado pelo menos 30 milhões de anos antes da extinção de grandes espécies. Na época, a região era um deserto.

A nova espécie foi batizada pelos pesquisadores de Vespersaurus paranaensis. O animal tinha em torno de um metro e meio, era bípede e carnívoro – se alimentava de outros pequenos animais,

“Tinha uma característica muito peculiar que era uma garra no pé em formato de lâmina que ele utilizava na captura de pequenas presas. Era um animal carnívoro, de pequeno porte, vivia no deserto e tinha um esqueleto leve, igual as aves têm hoje em dia ”, explicou o pesquisador Max Langer, da USP de Ribeirão Preto. 

Pesquisadores deram o nome de Vespersaurus paranaensis a nova espécie de dinossauro descoberta (Foto: Eduardo Cavalari/RPC)

Cruzeiro do Oeste é uma cidade pequena da região noroeste, tem cerca de 21 mil habitantes. Na década de 70, agricultores da região encontraram os primeiros fósseis.

Os materiais foram guardados pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e somente 40 anos depois eles foram analisados. Em 2014, pesquisadores de Santa Catarina pesquisadores confirmaram que os fósseis eram de Pteurossauros, répteis voadores.

As características dos pés desse fóssil ajudaram os pesquisadores a identificar que essa espécie de dinossauro é única no mundo. 

  "Essa espécie tinha uma característica muito interessante, tinha apenas um único dedo de sustentação na pata. Então, mais ou menos igual aos cavalos de hoje em dia, ele se locomovia no suporte de apenas um dedo. As características do pé são únicas, nenhum animal que se conhece no mundo tem essas essas características, então foi até relativamente fácil definir que era uma espécie nova", detalhou o pesquisador Max Langer.

A descoberta mostra que a América do Sul, o Brasil, também eram locais onde habitavam dinossauros, assim como nos Estados Unidos e Europa.

“Essa descoberta é fantástica, porque é o primeiro dinossauro descoberto e descrito aqui no Paraná. Além do mais, a gente tem um dinossauro carnívoro, o que é muito raro de ser encontrado, de ser preservado. Temos, por exemplo, a ideia de há muitos dinossauros na América do Norte, Estados Unidos, Europa, e aqui não tem. Essa pesquisa mostra que tem sim, só que a gente ainda está descobrindo eles”, pontuou o presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia, Renato Pirani Ghilardi. 


Pesquisadores descobriram que essa espécie de dinossauro tinha garras no pé — Foto: Eduardo Cavalari/RPC 


Fósseis do dinossauro encontrados em Cruzeiro do Oeste foram apresentados nesta quarta-feira (26) — Foto: Eduardo Cavalari/RPC 

Fonte: Portal G1

terça-feira, 7 de maio de 2019

Dinossauros da América do Sul: o gigante com crista de espinhos descoberto na Argentina

 Alejandra Martins

Da BBC News Mundo

Os espinhos de Bajadasaurus pronuspinax poderiam medir até 1,20 metros (Imagem: Jorge A. Gonzalez)

Ele media nove metros de comprimento e vivia no que hoje é a Patagônia argentina, há 140 milhões de anos.

Mas sua característica mais extraordinária era a crista cheia de espinhos enormes que se estendia do pescoço até o dorso.

A nova espécie de dinossauro foi encontrada na província de Neuquén, no norte da Patagônia, e foi chamada de Bajadasaurus pronuspinax.

O termo faz alusão à formação geológica em que foi encontrada, a Bajada Colorada, e aos longos espinhos inclinados para a frente que o caracterizam.

"Os espinhos neurais - como são chamados - são projeções de ossos que saem da parte superior das vértebras do pescoço", explicou à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, o paleontólogo Pablo Gallina, pesquisador da Fundação Felix de Azara da Universidade Maimonides em Buenos Aires e do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas da Argentina, o Conicet.

"Eles são espinhos muito alongados e, particularmente na Bajadasaurus, chegaram a um metro ou 1,20 m", acrescentou Gallina, principal autor do estudo publicado na revista Scientific Reports.

Que características esses espinhos tinham e que função cumpriam?

'Como chifres de antílope'

Os fósseis de Bajadasaurus foram encontrados em 2013 por pesquisadores da Fundação Félix de Azara e do Museu Paleontológico Ernesto Bachmann, em Villa El Chocón, em Neuquén.


Os espinhos ajudavam a assustar ou a afugentar os predadores, segundo Pablo Gallina
(Imagem por: Pablo Gallina)

Os Bajadasaurus pertenciam ao grupo dos dinossauros saurópodes, que eram herbívoros, quadrúpedes e caracterizados como de grande porte e com pescoço e cauda compridos.

Dentro desse grupo, eles estavam na família dos chamados dicreosáuridos, que se diferenciavam por seus grandes espinhos.

No caso dos Bajadasaurus, os espinhos estavam cobertos por um material que os reforçava.

"Nós entendemos que se tivessem sido formados somente por ossos e talvez em vida revestidos apenas por pele, seriam estruturas muito frágeis e poderiam ser quebradas muito facilmente com alguma pancada ou se o dinossauro fosse atacado por um predador", disse Gallina.

"Eles precisavam de uma estrutura externa que nós comparamos com o que acontece, por exemplo, com os chifres dos antílopes ou das cabras atuais, onde há uma caixa externa a esse osso formada por queratina."

O enigma dos espinhos

O parente mais próximo do Bajadosaurus é outro dinossauro encontrado em Neuquén, o Amargasaurus, que também tinha grandes espinhos e viveu na área entre 15 milhões e 20 milhões de anos depois.

Os espinhos eram projeções ósseas que saíam das vértebras do pescoço e das costas (Imagem por: Pablo Gallina)

"Nos anos 80, quando o Amargasaurus apareceu, diferentes hipóteses começaram a ser especuladas porque esses espinhos chamavam bastante a atenção."

Sugeriu-se, por exemplo, que os espinhos fossem suportes de "uma espécie de membrana, que regularia a temperatura do corpo, algo que acontece em alguns répteis de hoje."

Outros pesquisadores consideravam a possibilidade de terem sido simplesmente uma crista de exibição com função de atração sexual ou que fossem estruturas capazes de sustentar uma corcunda de carne para armazenar reservas.

Defesa passiva

Gallina e seus colegas levantam outra hipótese: a função dos espinhos era a defesa.

"A explicação que entendemos ser a mais provável é que eram espinhos que sobressaíam do corpo e tinham uma cobertura semelhante a um chifre. A presença dessa cobertura em cabras e antílopes deixa estrias nos ossos, marcas grandes que no Amargasaurus são bem visíveis."

Os restos do dinossauro foram encontrados em Bajada Colorada, uma formação geológica de rochas de 140 milhões de anos (Imagem por: Pablo Gallina)

O mais lógico, segundo o pesquisador, é que a espetacular exibição de espinhos desses dinossauros servisse como uma espécie de "alerta" para afugentar predadores, numa estratégia que ele descreve como "defesa passiva".

"Estes dinossauros passavam praticamente o dia inteiro comendo a vegetação. Tinham de estar permamentemente se alimentando. Eles ficavam com a cabeça abaixada, com o pescoço curvado para frente, deixando os espinhos expostos como se fossem um leque. Eram mais de 20 espinhos apontados para a frente, como um sinal de alerta."

O 'Amargasaurus', também encontrado em Neuquén, só que na década de 1980, é o parente mais próximo de 'Bajadasaurus' (Imagem: Getty Images AVS Turner)

Tanto para o Amargosaurus quanto para o Bajadasaurus, "definitivamente foi positivo ter esses espinhos que à primeira vista parecem ter sido muito incômodos para o animal."

Os fósseis e o nascimento dos Andes

Gallina e os colegas conseguiram recuperar 80% do crânio, o mais bem preservado do mundo para um dinossauro dicreosáurido.

Eles também extraíram das rochas as primeiras vértebras do pescoço e uma das partes do meio, além de dentes e mandíbulas.

A mandíbula com os dentes. O estudo dos dentes permitiu identificar que o dinossauro passava a maior parte do tempo se alimentando de plantas (Imagem por: Pablo Gallina)

Os restos mortais do dinossauro foram encontrados em 2013. A imagem mostra alguns dos dentes dele na rocha (Imagem por: Pablo Gallina)

"Os momentos de descoberta são de muita emoção. Ao encontrar algo de milhões de anos atrás, você faz uma viagem no tempo", disse Gallina.

Mais de 100 espécies de dinossauros foram encontradas na Argentina.

A que se deve essa enorme riqueza em fósseis?

"O que acontece é que praticamente em toda a Patagônia as rochas que estão no solo são de tempos em que existiam os dinossauros", explicou Gallina.

"Grande parte do Mesozóico, desde o Triássico ao Cretáceo, isto é, de 220 milhões de anos atrás a 65 milhões de anos atrás, está exposto nas rochas na superfície e isso é o resultado da elevação dos Andes."

Os pesquisadores conseguiram recuperar 80% do crânio, o mais bem preservado do mundo para um dinossauro dicreosáurido (Imagem por: Pablo Gallina)

O paleontólogo explicou que quando os Andes começaram a aparecer devido ao choque de placas tectônicas, há cerca de 70 milhões de anos, a cordilheira se arrastou e expôs, ao se elevar, todo o território que estava nas profundezas.

"É como se fosse um bolo com camadas em que todas as camadas profundas aparecem e são expostas se você levanta um lado dele", disse o paleontólogo.

"Então, o vento e a erosão foram desgastando essa superfície. Hoje, ao andar pelas ruas de Neuquén, caminhamos sobre o Cretáceo", acrescentou.

Outra razão da riqueza de fósseis é que, devido ao clima da Patagônia, a área é predominantemente deserta, com pouca vegetação, deixando a rocha exposta.

"Se fosse uma superfície como a Amazônia, seria muito difícil encontrar fósseis porque há muita vegetação."

'Não há nada parecido'

Apesar do grande número de descobertas, o Bajadosaurus é particularmente importante, de acordo com Gallina.

"O Bajadasaurus foi encontrado em um local onde estamos trabalhando há alguns anos e que é um dos poucos de 140 milhões de anos que nos mostra algo dos dinossauros dessa época."

"Dos grandes titanossauros gigantes, os grandes carnívoros, há muitos registros."

'É um animal completamente desconhecido, que tinha características únicas e que nós tentamos interpretar, entender', diz pesquisador (Imagem por: Pablo Gallina)

Mas os dinossauros do Cretáceo Inferior, uma janela entre 145 milhões e 120 milhões de anos, são praticamente desconhecidos, disse o pesquisador.

"Estamos justamente aqui, trabalhando com rochas de 140 milhões de anos e tudo o que estamos reconhecendo são novas formas. Isso nos permite estudar a evolução dos dinossauros e como esses grupos se relacionam com os antigos dinossauros do Jurássico."

O que Gallina diria a um grupo de crianças ou adolescentes que vê pela primeira vez os restos de Bajadasaurus?

"A primeira coisa que eu diria é que abram sua imaginação. Ele é um animal completamente desconhecido, que tinha características únicas e nós tentamos interpretá-lo, fazendo estudos rigorosos e comparações com animais modernos como antílopes ou cabras."

"Isso nos ajuda a entender esses animais. Não há nada, nada hoje em dia, com que eles se pareçam."

Fonte: BBC News

terça-feira, 2 de abril de 2019

O que aconteceu nas horas seguintes à queda do asteroide que teria dizimado os dinossauros?

Fósseis e outros materiais descobertos em escavações ​​nos Estados Unidos lançam luz sobre os minutos e horas seguintes à queda do asteroide que mudou a Terra.

Por BBC

A onda de choque sísmica teria provocado um tsunami, conhecido como seiche — Foto: ROBERT DEPALMA/BBC 

Cientistas descobriram uma imagem extraordinária do impacto da queda do asteroide que dizimou os dinossauros há 66 milhões de anos.

Escavações em Dakota do Norte, nos Estados Unidos, revelam fósseis de peixes e árvores pulverizadas com fragmentos rochosos e de vidro que caíram do céu.

Os depósitos também mostram evidências de terem sido inundados com água - conseqüência do enorme tsunami gerado pelo impacto.

Os detalhes foram divulgados na revista científica PNAS. 

DePalma, da Universidade do Kansas, diz que local da escavação oferece incrível visão do que aconteceu após a queda do asteroide — Foto: Robert DePalma/BBC 

Robert DePalma, da Universidade do Kansas, e seus colegas dizem que o local da escavação, em uma área chamada Tanis, oferece uma incrível visão de eventos que provavelmente ocorreram poucos minutos ou horas após o asteroide gigante atingir a Terra. 

  Quando esse objeto de 12 quilômetros de largura atingiu o que é hoje o Golfo do México, teria lançado bilhões de toneladas de rocha derretida e vaporizada no céu em todas as direções - e por milhares de quilômetros.

Em Tanis, os fósseis registram o momento em que esse material caiu de volta, como gotas, metralhando tudo o que tinha no caminho.

Os peixes foram encontrados com detritos gerados pelo impacto incrustados em suas brânquias. Eles teriam respirado os fragmentos que enchiam a água ao redor deles.

Há também partículas capturadas em âmbar, que são os restos preservados da resina de árvores. E é até possível identificar o rastro deixado por esses minúsculos tectitos - como são chamadas tecnicamente essas pequenas rochas de vidro - quando elas entraram na resina. 

Os peixes fossilizados ficaram uns sobre os outros quando foram jogados em terra pelo seicha — Foto: Robert DePalma/BBC

Geoquímicos conseguiram relacionar diretamente o material gerado pela queda do asteroide ao chamado local de impacto de Chicxulub, no Golfo. Eles também dataram os fragmentos de 65,76 milhões de anos, o que está bastante de acordo com a cronologia do evento desenvolvida a partir de evidências colhidas em outros locais ao redor do mundo.

Pelo modo como os depósitos de Tanis são organizados, os cientistas foram capazes de identificar que a área foi atingida por uma enorme onda de água. 

Embora o impacto tenha gerado um enorme tsunami, seriam necessárias muitas horas para que essa onda percorresse os 3.000 km do Golfo até Dakota do Norte, apesar da provável presença de um mar atravessando diretamente o território norte-americano.

Tectitos permitem estimar que o impacto ocorreu há 65,76 milhões de anos — Foto: Robert DePalma/BBC 

Os pesquisadores acreditam que, em vez disso, a água local pode ter sido deslocada muito mais rapidamente pela onda de choque sísmica - equivalente a um terremoto de magnitude 10 ou 11 - que teria ondulado ao redor da Terra. É um tipo de onda descrita como seicha, que teria apanhado tudo pelo caminho e atirado no emaranhado de espécimes que estão agora sendo registradas pela equipe.

"Um emaranhado de peixes de água doce, vertebrados terrestres, árvores, galhos, troncos, amonites marinhos e outras criaturas marinhas foi todo compactado nesta camada pela onda", disse DePalma.

"Um tsunami teria levado pelo menos 17 ou mais horas para chegar ao local da cratera, mas as ondas sísmicas - e uma onda subsequente - teriam atingido o local em dezenas de minutos", acrescentou.

O artigo publicado no jornal PNAS, online a partir desta segunda-feira (1º), inclui entre os autores Walter Alvarez, geólogo californiano que, com o pai, Luis Alvarez, é reconhecido por ajudar a desenvolver a teoria do impacto para a extinção dos dinossauros. 

  A dupla Alvarez identificou uma camada de sedimentos na fronteira dos períodos geológicos do Cretáceo e do Palaeogene que foram enriquecidos com irídio, um elemento comumente encontrado em asteroides e meteoritos.

Vestígios de irídio também teriam coberto os depósitos de Tanis.

"Quando propusemos a hipótese do impacto para explicar a grande extinção, ela se baseou apenas em encontrar uma concentração anormal de irídio - a impressão digital de um asteroide ou cometa", disse o professor Alvarez. "Desde então, a evidência foi gradualmente construída. Mas nunca me passou pela cabeça que encontraríamos um leito de morte como este."

Phil Manning, da Universidade de Manchester, o único autor britânico no artigo, comentou: "Esse é um dos locais mais importantes do mundo agora. Se você queria mesmo entender o último dia dos dinossauros, é o que ele mostra", disse ele à BBC News. 

SAIBA MAIS: A Cratera Chicxulub - O evento que mudou a vida na Terra

• Um objeto de 12 km de largura escavou um buraco na crosta terrestre com 100 km de diâmetro e 30 km de profundidade;

• Este buraco então cedeu, deixando uma cratera de 200km de diâmetro e alguns km de profundidade;

• Hoje, grande parte da cratera se encontra coberta pelo mar, e sob 600m de sedimentos;

• Em terra, ela é coberta por calcário, mas sua borda é marcada por um arco de sumidouros - como poços;

• Cientistas recentemente perfuraram a estrutura da cratera para investigar sua formação. 

Famosos cenotes (cavidades) mexicanos se formaram a partir de calcário enfraquecido sobre Cratera de Chicxulub — Foto: Max Alexander

Fonte: Portal G1