Figura 1. Indivíduo adulto de Tupinambis merianae do plantel NUROF-UFC. |
Entre as táticas defensivas de lagartos, a
mais primária é evitar ser detectado por seu predador, através da
combinação de comportamentos crípticos, como camuflagem, coloração
disruptiva e imobilidade. Após ser encontrado por um predador, o
comportamento mais amplamente executado por lagartos é a fuga, na
tentativa de escapar da ameaça. Entretanto, algumas vezes o lagarto está
encurralado e, nestes casos, alguns comportamentos de intimidação podem
ser exibidos no sentido de dissuadir seu potencial predador, como abrir
a boca, inflar o corpo e agitar a cauda (Martins, 1996). Mesmo após
todas estas tentativas de defesa, o predador pode persistir em sua
investida e então, os lagartos podem se utilizar de ferramentas para
atacar e agredir seu oponente. Na perspectiva dos lagartos, existem três
principais tipos de dispositivos de ataque (neste caso para se
defender): a cauda, as garras e a boca.
Neste âmbito, apresento os possíveis,
embora pequenos, riscos da aproximação e manipulação de lagartos por
leigos. Em especial, me detenho a duas espécies de grande porte que
ocorrem no Brasil, a Iguana-verde (Iguana iguana) e o Tejo (Tupinambis merianae), ambas podendo atingir mais de um metro e meio de comprimento.
Figura 2. Datealhe da cabeça de Tupinambis merianae. |
Obs: Vale frisar que as duas espécies citadas algumas vezes são criadas domesticamente como pets e podem tornar-se bastante dóceis, fornecendo pouco ou nenhum risco aos seus proprietários.
A longa e robusta cauda das Iguanas e dos
Tejos, mecanicamente utilizada para locomoção e equilíbrio, constitui
um tipo de arma de longo alcance que evita a aproximação exagerada do
potencial predador. Ao ser agitada bruscamente, a cauda pode ser usada
como um “chicote” para golpear o adversário, causando bastante dor no
local atingido.
As fortes garras afiadas, usadas pelas
Iguanas para se fixar e se locomover nas árvores e pelos Tejos para
forragear e escavar tocas, quando os lagartos são manipulados, podem
atingir a pele, causando danos físicos e provocando hemorragias locais.
A boca, ornamentada com fortes dentes, é
pouco utilizada com fins defensivos por Iguanas, mas é uma das mais
importantes armas dos Tejos. No caso dos Tejos, sua dentição é
caracterizada pela heterodontia (presença de vários tipos de dentes),
podendo desempenhar funções de corte, perfuração e esmagamento (Brizuela
& Albino, 2010).
Recentemente, foi publicado um caso de
mordida de Tejo em humanos. A vítima levou uma mordida no dedo indicador
da mão direita ao tentar separar a briga entre seu cão e um Tejo com
cerca de 1,5 m de comprimento. A lesão provocou perda de tecido, fratura
óssea na falange distal, intensa hemorragia, inflamação local e dor
intensa por mais de 10 horas. A intensidade da injúria foi tamanha que
necessitou de intervenção cirúrgica, com a aplicação de enxerto cutâneo
para reabilitação funcional e benefícios estéticos ao paciente (Haddad
et al, 2008).
Figura 3. Crânio de Tupinambis merianae. |
Portanto, embora a maioria dos lagartos
cause pouco ou nenhum risco à saúde dos seres humanos, algumas espécies
de grande porte merecem maior atenção. A lida com animais selvagens
exige conhecimento biológico, prudência e responsabilidade, assim espero
que esta postagem sirva como um alerta aos leitores que por ventura
desejem se aproximar demais ou até manipular grandes lagartos como as
Iguanas e os Tejos. Estejam cientes: Lagartos brasileiros: peçonhentos não, mas nem tão inofensivos!
Por: Daniel Passos, membro do NUROF-UFC
Fonte: http://blogdonurof.wordpress.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRIZUELA, S. & ALBINO, A. M.. 2010. Variaciones dentarias en Tupinambis merianae (Squamata:Teiidae). Cuadernos de Herpetología, 24(1): 5-16.
HADDAD JR., V.; DUARTE, M. R.; GARRONE NETO, D. 2008. Tegu (Teiu) Bite: Report of Human Injury Caused by a Teiidae Lizard. Wilderness and Environmental Medicine, 19: 111-113.
MARTINS, M. 1996. Defensive tactics in lizards and snakes: the potential contribution of the neotropical fauna. Anais do XIV Encontro Anual de Etologia, 14:185-199.
Nenhum comentário:
Postar um comentário