É uma mistura de tiranossauro e velociraptor
Pesquisadores da USP encontraram uma nova espécie de dinossauro que
viveu há cerca de 233 milhões de anos onde hoje é a região sul do
Brasil. Batizado de Nhandumirim waldsangae, ele foi apresentado em
estudo publicado no periódico científico Journal of Vertebrate
Paleontology na última quinta, dia 14 de fevereiro. Conforme os
cientistas, a espécie seria um parente do Tyrannosaurus rex e do
Velociraptor mongoliensis, dois famosos dinossauros predadores.
Os
ossos do Nhandumirim waldsangae foram encontrado em 2012 na Formação
Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em rochas do período Triássico
Superior (entre 237 milhões e 201,3 milhões de anos atrás). Apesar do
esqueleto estar incompleto, as características anatômicas observadas em
12 vértebras, um chevron e nos ossos da perna direita e as análises
filogenéticas permitiram aos pesquisadores classificá-lo como uma nova
espécie de terópode (bípede), sendo a mais antiga do Brasil.
"O
esqueleto é fragmentário e obviamente precisa de um esqueleto mais
completo para que essa hipótese ganhe mais robustez, mas os primeiros
resultados mostram um membro da linhagem dos dinossauros terópodes",
comenta o biólogo Júlio Marsola, um dos autores do artigo, em entrevista
ao Jornal da USP.
Os terópodes são uma linhagem de dinossauros que faz parte do grande
grupo dos saurísquios (quadril de lagarto). Outras duas linhagens fazem
parte do grupo dos herrerasaurídeos, carnívoros, e dos sauropodomorfos,
herbívoros que tinham como característica marcante os longos pescoços. O
Nhandumirim não tem nada a ver com os herrerasaurídeos, mas divide
algumas características com os sauropodomorfos.
"Eu tentei atacar
duas frentes. Mostrar que esse bicho tem características que são
diferentes dos pescoçudos que a gente tem aqui [no Brasil], que são os
sauropodomorfos. E, ao mesmo tempo, que ele é mais proximamente
relacionado desses terópodes", afirma Marsola, que assina o trabalho
junto com o professor Max Langer, do Laboratório de Paleontologia da
USP, e com outros pesquisadores das universidades federais de Santa
Maria, Minas Gerais e Pernambuco e da Universidade de Birmingham, no
Reino Unido.
Ossos delgados
O nome da
nova espécie proposta traduz como os cientistas imaginam que era o
animal. "Nhandu" é uma palavra tupi-guarani para ema ou outras aves
similares. "Mirim" significa pequeno. Segundo Júlio Marsola, os ossos
delgados do animal são incompatíveis com a silhueta de um animal pesado e
sugerem que ele era um bípede algo parecido com uma seriema. Para ficar
entre parentes mais próximos, pode-se dizer que o Nhandumirim tinha
traços parecidos com outro terópode, um carnívoro bípede chamado
Coelophysis, que foi descoberto nos Estados Unidos em 1889.
A
análise dos ossos também indica que ele teria pouco mais de um metro de
comprimento – portanto, considerado pequeno em relação ao que se espera
de um dinossauro. Porém, como se trata de um fóssil de um animal jovem, é
difícil estabelecer o tamanho que ele atingiria quando adulto.
Já
o termo "waldsangae" se refere ao sítio paleontológico onde foi
encontrado. O sítio Waldsanga, também conhecido como Cerro da Alemoa,
fica nos arredores de Santa Maria, município do Rio Grande do Sul.
Marsola conta ao Jornal da USP que essa formação geológica e algumas
outras localidades na Argentina representam alguns dos mais antigos
depósitos do mundo com ocorrência de fósseis de dinossauros. Esses
depósitos datam do período Carniano – uma subdivisão do Triássico
Superior. Até a descoberta do Nhandumirim, o terópode mais antigo do
Brasil foi um fóssil encontrado em rochas muito mais recentes.
Aliás,
o Nhandumirim waldsangae é muito mais antigo do que seus parentes mais
famosos. O Tyrannosaurus rex e o Velociraptor mongoliensis são do final
do Cretáceo, o último período em que há registros paleontológicos de
grandes dinossauros. Eles viveram entre 66 e 78 milhões de anos atrás,
muito mais recente do que o novo dinossauro de 233 milhões de anos.
(com Jornal da USP)
Fonte: Encontro Digital