quarta-feira, 11 de setembro de 2019

O dia em que o mundo dos dinossauros veio abaixo

Cientistas fazem uma reconstituição dos segundos, minutos e horas após o impacto do asteroide que dizimou os antigos habitantes do planeta.

Por BBC 

Ilustração mostra o impacto do asteróide, que deve ter desencadeado ondas gigantescas — Foto: Barcroft Productions/BBC 


Cientistas têm um registro do pior dia da Terra – ou, pelo menos, o pior nos últimos 66 milhões de anos. 

Ele está num trecho de 130 metros de uma rocha retirada do Golfo do México. 

Esses são sedimentos depositados logo após um imenso meteoro se chocar com o planeta. 

Você deve saber do que estamos falando: do evento que cientistas consideram ter causado a extinção dos dinossauros e a ascensão dos mamíferos. 

A rocha que conta essa história foi resgatada por uma equipe liderada por americanos e britânicos, que passaram várias semanas em 2016 cavando na cratera aberta pelo impacto. 

Hoje, essa estrutura com 200 km de diâmetro fica embaixo sob a península de Yucatán, no México. Suas partes mais preservadas estão bem próximas ao porto de Chicxulub. 

A equipe retirou várias porções da rocha, mas é esta seção com 130 metros que documenta o primeiro dia do que geólogos conhecem por Era Cenozóica, também chamada por outros de Idade dos Mamíferos. 

O impacto que mudou a vida na Terra

Um objeto com 12 km de diâmetro abriu um buraco de 100 km de largura e 30 km de profundidade na superfície da Terra. 

Essa fenda então colapsou, deixando uma cratera de 200 km de largura e alguns quilômetros de profundidade. Houve um novo desabamento no centro da cratera, formando um anel interno.

  Hoje, boa parte da cratera está sob o solo do mar, abaixo de 600 metros de sedimentos. A parte em terra está hoje coberta por rochas calcárias, e sua borda é marcada por um arco de cavernas.

O trecho da rocha é um combinado de materiais estilhaçados, mas seu conteúdo está disposto de tal forma que cientistas dizem ser capazes de perceber uma narrativa clara.

Os últimos 20 metros são dominados por destroços que lembram vidro. Essa é a rocha que foi derretida pelo calor e pela pressão do impacto. Ela escorreu pela base da cratera segundos e minutos após o choque.

Em seguida, há um trecho de rocha derretida fragmentada - formado por explosões conforme a água jorrava pelo material quente.

A água vinha do mar raso que cobria a área naquela época. Ela foi expulsa temporariamente pelo impacto, mas, quando voltou e entrou em contato com a rocha incandescente, gerou violentos fenômenos. Algo similar ocorre em vulcões, quando o magma interage com a água do mar.

Essa fase transcorreu durante uma hora. Conforme a água continuava a fluir para a cratera, e um monte se formou no centro do buraco com destroços carregados pela água. Grandes fragmentos foram acompanhados por materiais mais e mais finos.

Esse processo transcorreu nas primeiras horas depois do impacto.

Depois, bem no topo da seção retirada da cratera, há sinais de um tsunami. Os sedimentos afundaram numa só direção, e sua organização indica que eles foram depositados por um evento de grande energia.

Cientistas dizem que o impacto gerou uma onda gigantesca que deve ter avançado centenas de quilômetros terra adentro. Essa onda acabou por voltar - e os destroços carregados por ela cobrem o topo da rocha extraída do fundo do mar pelos pesquisadores.

Explosão de enxofre

"Isso tudo foi no dia 1", diz o professor Sean Gulick, da Universidade do Texas em Austin. "Tsunamis se moveram na velocidade de um jatinho. Vinte e quatro horas são uma quantidade suficiente de tempo para que as ondas tenham entrado e saído repetidamente", ele disse à BBC News. 

A equipe de Gulick acredita na explicação sobre o tsunami porque, misturado com os depósitos extraídos, há sinais de solo e carvão - evidências dos grandes incêndios que teriam surgido pelo calor gerado pelo impacto –, tudo transportado para a cratera pelas ondas.

Estranhamente, o que os cientistas não encontraram em nenhum ponto da rocha extraída foi a presença de enxofre. É uma surpresa, porque o asteroide teria se chocado com um fundo do mar composto por até metade de minerais que contêm enxofre.

Por algum motivo, o enxofre deve ter sido ejetado ou vaporizado. Mas isso apenas reforça a teoria atual sobre como os dinossauros tiveram um fim.

O enxofre misturado à água e despejado na atmosfera pode ter reduzido dramaticamente a temperatura, tornando a vida difícil para todos os tipos de plantas e animais.

A injeção de bilhões de toneladas de enxofre no ar causou uma queda de 25 graus Celsius na temperatura por pelo menos 15 anos, fazendo com que a maior parte do planeta congelasse, diz Gulick.

A emissão de enxofre foi muitas vezes superior ao que um vulcão como o Krakatoa é capaz de fazer, também gerando uma diminuição periódica da temperatura.

Os mamíferos emergiram a partir dessa calamidade. Os dinossauros ficaram para trás. 

Fonte: Portal G1

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Assim foi o primeiro dia na Terra depois do asteroide que acabou com os dinossauros

Um estudo reconstitui minuto a minuto o que se passou há 66 milhões de anos, graças a um cilindro de rocha extraído da zona do impacto

O cilindro de sedimentos foi extraído de aproximadamente 1.300 metros sob o leito marinho e estudado por segmentos.Foto: ECORD/IODP Vídeo: Reuters/Next Animation Studio

Cerca de 66 milhões de anos atrás, um milênio a mais ou a menos, um asteroide atingiu a Terra no que hoje é o Golfo do México. O choque foi de tal magnitude que a teoria dominante entre os cientistas indica que causou o desaparecimento de 75% da vida, a começar pelos dinossauros. Agora, o estudo de um cilindro de rocha extraído da cratera causada pelo impacto permitiu reconstituir minuto a minuto que se passou há tanto tempo. E foi um verdadeiro inferno.

Em 2016, a Expedição 364 à cratera Chicxulub, no noroeste da Península de Yucatán (México), perfurou a zona de impacto. Não cavaram na parte central, mas na borda externa da cratera. Extraíram um cilindro rochoso de uns 1.334 metros abaixo do fundo do mar. Segmentado em partes, seu estudo por um grande grupo de geólogos e cientistas de outros campos conta a história em capítulos tão precisos como os dos anéis de árvores ou núcleos extraídos do gelo, embora milhões de anos se tenham passado.

“É uma das vantagens com as crateras de impacto. Sua formação segue leis físicas muito bem definidas", diz o pesquisador do Centro de Astrobiologia/CSIC e coautor do estudo, Jens Olof Ormö. "Podemos reconstituir uma sequência de eventos [por exemplo, ver quais sedimentos seguem um acima do outro]. Pelo tipo de sedimento [tamanho dos clastos (fragmentos), tipo e classificação], podemos saber se o depósito foi rápido ou lento, e aproximadamente o tempo que isso levou", explica.

Em Chicxulub, o impacto do asteroide liberou uma energia equivalente à de 10 bilhões de bombas como a de Hiroshima. Volatilizou enormes quantidades de material. Estudos anteriores estimaram que liberou na atmosfera 425 gigatoneladas de CO2 e outras 325 de sulfuretos (uma gigatonenada equivale a 1 bilhão de toneladas métricas). Um penúltimo dado: o tsunami subsequente levou água do Caribe para os Grandes Lagos do norte dos Estados Unidos, a cerca de 2.500 quilômetros da zona de impacto.

Mas o que mais interessou aos geólogos foi a rapidez com que a maior parte da cratera foi preenchida com os restos do choque brutal. Estima-se que em apenas 24 horas o buraco tenha sido coberto com uma camada de cerca de 130 metros de sedimentos, que são os que eles estudaram agora. Aí está escrita a história do primeiro dia de vida na Terra após o impacto. Aí os geólogos estabelecem a divisão entre duas eras, a do mesozoico e a do cenozoico atual. E é aí que quase tudo indica que começou a extinção dos dinossauros e o surgimento dos mamíferos.

Plataforma a partir da qual a cratera Chicxulub foi perfurada.University de Texas en Austin

Segundo o estudo, publicado na PNAS, os 40-50 metros inferiores, formados por rochas fundidas e fragmentárias (lacunas) se depositaram minutos após o impacto. Uma hora mais tarde teria surgido outra camada de cerca de 10 metros, composta de suevite, rochas de vidro e outros materiais fundidos. Horas depois, outros 80 metros foram preenchidos com sedimentos mais finos. No final do dia, o refluxo da água retirada com o impacto arrastou até ali enormes quantidades de material da região e áreas muito remotas.

Entre os últimos sedimentos, os pesquisadores encontraram uma grande quantidade de material orgânico, especialmente um rastro de fungos e muito carvão vegetal. Isso deve ter vindo dos restos dos incêndios causados pelo impacto e pela queda de materiais incandescentes nas florestas de centenas de quilômetros ao redor.

"Com um asteroide de 12 quilômetros atingindo Yucatán, os efeitos locais devem ter sido catastróficos e provavelmente também em distâncias de até 1.500 quilômetros do impacto, onde o impacto térmico pode ter provocado a queima das árvores. Em distâncias maiores, o material ejetado também teria causado incêndios por atrito à medida que caía na atmosfera. Mas esses efeitos devem ter sido de curta duração e não podem explicar a extinção global de 75% da vida", diz em um e-mail, o principal coautor do estudo, o professor do Instituto de Geofísica da Universidade do Texas (EUA), Sean Gulick.

Essa parte da história começou naquele dia, mas deve ter durado anos. Na rocha extraída das bordas internas da cratera Chicxulub há uma notável ausência de materiais sulfurosos. Não há vestígios de enxofre na área e o momento do impacto, embora as rochas ricas em sulfeto sejam abundantes. Esses dados reforçam a teoria de que o asteroide expeliu enormes quantidades de sulfetos na atmosfera, impedindo a radiação solar e resfriando o planeta. As simulações indicam que a temperatura média global caiu 20 graus e assim permaneceu durante uns 30 anos.

"Estamos diante de evidências empíricas da conexão entre o impacto do asteroide e a grande extinção", diz o pesquisador da UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México) e um dos líderes do grupo de pesquisa, Jaime Urrutia, que está estudando a cratera de Chicxulub há várias décadas. Para ele, a grande contribuição deste trabalho é a resolução temporal que oferece sobre a sequência de eventos que se seguiram a um impacto ocorrido há 66 milhões de anos e que marcou o destino do planeta.

Fonte: El País