Por Marco Túlio Pires
Cientistas acreditam que os dinossauros foram extintos por causa de um grande asteroide que atingiu a Terra há 65 milhões de anos (iStockphoto/ThinkStock/VEJA) |
Um estudo publicado nesta segunda-feira no periódico Nature Communications sugere que alguns dinossauros estavam em declínio no momento da queda do asteroide que causou a extinção em massa na Terra há 65 milhões de anos. Ao mesmo tempo, outras espécies estavam em ascensão, segundo os pesquisadores do Museu Americano de História Natural, nos Estados Unidos.
Entre os dinossauros que estavam em declínio, os pesquisadores apontam os hadrossaurídeos, dinossauros com bicos de pato, e os ceratopsídeos, o grupo dos Triceratops. Outras espécies mantinham-se estáveis, como os herbívoros de médio porte e os carnívoros. Já os saurópodes, os maiores dinossauros, quadrúpedes e de cauda e pescoços compridos, estavam em ascensão.
Os pesquisadores calcularam diferenças no esqueleto de sete grandes grupos de dinossauros, totalizando 150 espécies. Isso permitiu verificar quais grupos tinham maior diversidade e, portanto, estavam mais bem adaptados ao ambiente. Ao analisar a mudança de biodiversidade em um grupo de dinossauros através do tempo, os pesquisadores conseguiram criar uma ‘radiografia’ do bem-estar dos animais nesse período. Os grupos que tinha maior diversidade biológica poderiam, não fosse o catastrófico asteroide, dar origem a mais espécies.
O Tiranossauro faz parte do grupo de carnívoros que, de acordo com a pesquisa, manteve um nível estável de biodiversidade até a extinção em massa, há 65 milhões de anos
Mas por que alguns dinossauros prosperavam enquanto outros estavam em declínio? Uma das suposições levantadas é que os dinossauros carnívoros e os herbívoros de médio porte ocupavam locais aos quais estavam melhor adaptados. “Os saurópodes, por exemplo, pareciam estar destinados a um futuro brilhante não fosse a queda do meteorito”, diz o paleontólogo português Luiz Azevedo Rodrigues, da Agência Nacional Ciência Viva, em Portugal. Rodrigues, que não esteve envolvido na pesquisa, é um estudioso da diversidade de características dos saurópodes.
A paleontóloga Claudia Ribeiro, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, destaca que mesmo que alguns dinossauros estivessem realmente em declínio, isso não significa automaticamente que eles estavam condenados à extinção.
A questão sobre a extinção dos dinossauros permanece complexa, admitem os autores. “A diversidade biológica variou muito nos 150 milhões de anos de existência dos dinossauros”, disse Mark Norell, chefe de paleontologia do Museu Americana de História Natural e coautor do estudo. “Pequenas alterações em dois ou três intervalos de tempo podem não ser significativas no todo”.
Segundo Rodrigues, o estudo ainda deixa algumas questões abertas, como por que o impacto do meteorito causou a extinção de algumas espécies (dinossauros e outros animais terrestres) e não a de outras, como mamíferos e aves. “Contudo, aponta caminho para futuras investigações sobre os dinossauros a partir de diferenças nas características dos esqueletos desses animais.”
Opinião do especialista
Luiz Eduardo Anelli
Especialista em dinossauros brasileiros, doutor em geociências pela Universidade de São Paulo. É também autor dos livros Dinossauros do Brasil e Dinos do Brasil, da Editora Peirópolis
O resultado apresentado pelo estudo não quer dizer que as populações estavam minguando para a extinção. Quer dizer que novos grupos de dinossauros não estavam mais substituindo os grupos antigos e que algumas linhagens não estavam mais sendo criativas na exploração dos ambientes. A descoberta destes padrões evolutivos ajudará futuramente no entendimento das razões que provocaram a não sobrevivência dos grandes dinossauros no final do período Cretáceo.
Biblioteca
O livro Dinos do Brasil lista todos os dinossauros brasileiros, com fichas técnicas detalhando o significado dos nomes, onde e quando foram encontrados, a idade de cada um e o tamanho. O livro é uma versão para crianças do livro O Guia Completo dos Dinossauros Brasileiros.
Autor: ANELLI, LUIZ
Editora: PEIRÓPOLIS
Os paleontólogos examinaram isto num intervalo de tempo de cerca de 12 milhões de anos. O panorama que descreveram é a grande regra da vida: alguns grupos se mantêm constante, outros decaem e outros crescem em diversidade. Isso ocorre especialmente se tratando de áreas geográficas distintas, ao longo de uma linha de tempo.
Hoje temos o mesmo panorama com, por exemplo, os mamíferos. A diversidade é distinta nas diferentes regiões do mundo. Se então examinarmos o que ocorreu nos últimos milhões de anos, certamente vamos nos deparar com padrões similares aos vistos no estudo com dinossauros 65 milhões de anos atrás, com linhagens florescendo e outras minguando. Foi assim desde sempre
O estudo é notável porque foi realizado em um intervalo de tempo crítico na história da Terra, e com um grupo de animais que em seguida sofreu forte extinção. A determinação de padrões de diversidade ao longo do tempo não é tão simples, mas os dinossauros possibilitaram isso pela grande quantidade de estudos já realizados com eles e também pelo grande número de espécies hoje conhecidas.
No entanto, o registro fóssil quase sempre nos engana especialmente quando se trata de um tempo tão curto – e por tratar-se do exame de apenas um grupo de animais. Nestes casos, a amostragem é reduzida demais (apenas 150 espécies perto das dezenas de milhares de dinossauros que devem ter existido naqueles 12 milhões de anos) e a chance de estarmos olhando para uma miragem evolutiva, isto é, de que o padrão observado pelos autores tenha sido muito distinto do que de fato aconteceu, é muito grande. No entanto, este é um estudo pioneiro, e muitos ainda virão e poderão ou não confirmar os resultados deste estudo.
Fonte: Veja