Fósseis de espécie herbívora foram encontrados no município de Tesouro.
Animal tinha entre 8 e 10m de altura e era da família dos titanossauros.
Carolina Holland
Do G1 MT
O fóssil de uma nova espécie de dinossauro descoberta em Mato Grosso está em fase de estudo por pesquisadores de Mato Grosso e do Rio de Janeiro. Os vestígios do animal, que era herbívoro, tinha entre 8 e 10 metros de altura e pertencia à família dos titanossauros, foram descobertos em 2002, no município de Tesouro, a 385 km de Cuiabá.
Um dos responsáveis pelos trabalhos é o doutor em paleontologia Alexander Kellner, de 52 anos, do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Nascido em Liechtenstein, mas naturalizado brasileiro, ele também foi um dos descreveram o primeiro fóssil de dinossauro encontrado em solo mato-grossense, o abelissauro.
O fóssil atualmente em pesquisa é composto por coluna vertebral, braços e pernas. O paleontólogo evita dar muita informação sobre o dinossauro. “Não se costuma falar muito de um animal que está sendo descrito ainda”, justifica Kellner, que já descreveu cerca de 50 espécies de animais e, entre eles, aproximadamente 10 dinossauros.
O material ficou parado por um bom tempo no museu nacional, diz o estudioso, e não há prazo para que a descrição fique pronta. Além do tamanho dos dinossauros em si, um dos entraves para a pesquisa é a falta de verba, aponta Kellner.
“Até porque os pesquisadores não estudam só essas espécies. E os dinossauros, por serem muito grandes, demandam mais tempo e mais dinheiro. Uma das grandes dificuldades é remover o sedimento que envolve o fóssil”, comenta.
Um dos exemplos da demora nesse processo é a descrição do abelissauro, há pouco mais de uma década. A vértebra caudal e uma vértebra da coluna foram encontrados no distrito Jangada Roncador, de Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá, na década de 60, mas o animal só foi descrito cerca de 40 anos depois. O fóssil permaneceu décadas no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e acabou sendo estudado por pesquisadores do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
O animal ganhou o nome de Pycnonemossaurus nevesi e o apelido de “lagarto de Abel”. O dinossauro era carnívoro, podia chegar a 4 metros de altura e viveu há aproximadamente 70 milhões de anos. Uma réplica de 2,20 metros de altura e 7 de cumprimento pode ser vista no Museu de Pré-História Casa Dom Aquino, na capital.
Pesquisas em MT
A estimativa é que no máximo cinco pesquisadores atuem no estado, nos dias atuais, para estudar fósseis, diz a bióloga e doutora em botânica Silane Caminha, responsável pelo laboratório de paleontologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
“O estado é gigantesco e há pouquíssimas pessoas trabalhando com isso. O potencial é muito grande. Temos vários invertebrados e muitos vertebrados. E há as plantas também. Acho que nossa evolução de conhecimento de dinossauros deveria ser muito além do que está”, afirma.
Porém, a riqueza de Mato Grosso não está relacionada apenas aos vestígios de dinossauros. Aqui, por exemplo, foi encontrado dez anos atrás o fóssil de um peixe, em Alto Garças, a 366 km da capital, que teria vivido há mais ou menos 250 milhões de anos. O autor da descoberta, que ocorreu durante uma aula de campo, foi um aluno do curso de geologia da UFMT.
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Fóssil de peixe encontrado por estudante durante aula de campo em Alto Garças (Foto: Carolina Holland/G1) |
“É importante porque é um holótipo (espécime único, a partir do qual foi descrita uma espécie ou subespécie). Uma espécie nova. E é o primeiro peixe encontrado aqui no estado. Depois desse achado, não foi encontrado mais nada”, explicou Silane. A publicação da descrição do fóssil, no entanto, nunca saiu. “Já foi submetida, está tudo certo, mas não foi publicada ainda. Essas coisas demoram mesmo, na verdade”, afirma.
De acordo com a doutora, alguns dos lugares com maior potencial paleontológico no estado são a região de Chapada dos Guimarães (dinossauros e braquiópodes - invertebrados que parecem ostras), Guiratinga e Tesouro (dinossauros), e Alto Garças (mesossauro – espécie de lagarto pequeno).
Os vestígios mais comuns encontrados no estado são de braquiópodes. “São 'conchinhas' encontadas com abundância em Chapada. E são importantes porque foram pouco estudadas. Foram alvo de pesquisas nas década de 80 e 90, mas, depois disso ninguém nunca mais estudou”, diz Silane.
A pesquisadora avalia que os fósseis do estado ainda são pouco conhecidos. E, apesar do potencial, o estado não atrai muita gente de fora. “A impressão que eu tenho quando vou a congressos é que todo mundo quer vir a Mato Grosso. Mas, efetivamente, nunca aconteceu. Tem muitos paleontólogos no Sudeste e Sul do país. Mas eles acabam se envolvendo nas pesquisas locais”, afirma. Essa ausência de interessados é ruim, avalia Alexander Kellner “A falta de pesquisadores faz com que demore a elucidação das pesquisas”, opina.
Outros achados de dinossauros, como coprólitos (restos fecais fossilizados), fêmur e ossos longos desses animais podem ser vistos no Museu de Minerais, Rochas e Fósseis da UFMT.
Ir a campo
As idas a campo em busca de fósseis são sempre incógnitas. Muitas vezes, paleontólogos e estudantes passam dias procurando e nada. Ou quando encontram, são coisas mais soltas, como vértebras e costelas. Achar um animal inteiro é raro.
“A atividade de coleta é de risco. Fica-se muito tempo acampado, tirando muita coisa da terra, dormindo em barraca. Não é fácil. E ainda existe a possibilidade de não encontrar nada”, diz Kellner.
Na UFMT, 40 alunos do curso de geologia vão a campo uma vez por ano para passar de 4 a 7 dias vasculhando. Às vezes encontram alguma coisa. Porém, mas na maioria das vezes, não. “A gente vai preparado para não encontrar nada”, ressalta Silane.
No entanto, quando um fóssil é descoberto, tudo muda. “A comida passa a ser uma delícia e o acampamento vira hotel cinco estrelas”, brinca Kellner.
Fósseis e população
O laboratório de paleontologia da UFMT recebe colaboração de moradores de várias regiões do estado, que avisam quando encontram materiais. Alguns donos de minas também têm exercido papel importante no estímulo à pesquisa. Quando algum trabalhador encontra um fóssil, por exemplo, encaminha à universidade.
Contudo, ocorrem ainda enganos, como o de confundir ossos 'novos' com fósseis. Para saber se o que foi encontrado deve ser objeto de pesquisa para paleontólogos, uma das dicas é verificar a densidade: o fóssil é mais rocha do que osso e, por isso, é pesado como uma pedra. Em outras palavras, o osso recente é muito mais leve porque não é uma rocha ainda.
Para a paleontologia, materiais de até 10 mil anos atrás são subfósseis. E, anteriores a isso, fósseis.
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Fóssil de mesossauro encontrado em Mato Grosso está no laboratório de paleontologia da UFMT
(Foto: Carolina Holland/G1)
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Fonte: G1