Camila Henriques e Marina Souza
'Nevina' tem seis anos de idade e vive em Balbina, próximo a Manaus.
Durante visita, G1 também acompanhou nascimento de tracajás.
Tartaruga albina tem seis anos de idade e nasceu nas proximidades do Rio Uatumã (Foto: Camila Henriques/G1 AM) |
Em Balbina, distrito de Presidente Figueiredo, município a 117 km de Manaus, uma espécie de tartaruga-da-Amazônia chama a atenção pela falta de pigmentação no corpo. Batizada de Nevina - uma junção de neve com Balbina - a fêmea é a única tartaruga albina em cativeiro no Amazonas, segundo o engenheiro-agrônomo e especialista em animais silvestres, Paulo Henrique Oliveira. Em novembro, Nevina celebra idade nova no Centro de Proteção e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA).
A tartaruga-da-Amazônia, cujo nome científico é Podocnemis expansa, vive no CPPQA, que pertence ao complexo da Hidrelétrica de Balbina, administrado pela Eletrobrás Amazonas Energia. Paulo Oliveira conta que o animal nasceu em uma praia artificial próxima à barragem do Rio Uatumã. "Entre 88 filhotes, ela foi a única albina. Essa tartaruga completa seis anos neste mês de novembro", disse.
O engenheiro-agrônomo explica que Nevina é saudável, apesar de sofrer com as condições do clima no Amazonas. "É um animal de sangue frio, que só executa as suas atividades quando o sol está bem quente. Ela sente mais os efeitos do tempo aqui. Quando chove, ela precisa ficar mais tempo na água", exemplifica.
Tartaruga albina foi batizada de Nevina, uma junção de neve com Balbina (Foto: Camila Henriques/G1 AM) |
O pesquisador afirma que a tartaruga albina é mais visível aos predadores e, caso vivesse em um ambiente natural, teria mais dificuldades para caçar. Paulo Henrique também garante que a condição do animal não deve impedir a reprodução da espécie. "Como é um gene recessivo, precisamos de alguns cuidados. Se uma tartaruga assim cruza com uma normal, a chance de os filhotes nascerem albinos é de 25%. Como ela só tem seis anos e a reprodução começa a partir dos 12, ainda tem muito tempo para se preparar", explicou Paulo Henrique Oliveira.
Albinismo
O albinisno é uma condição caracterizada pela ausência de melanina, classe de compostos poliméricos cuja principal função é a pigmentação e protecção contra a radiação solar.
De acordo com o pós-doutor em quelônios e répteis e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Richard Carl Vogt, a probabilidade de uma tartaruga nascer com albinismo é de uma em 2 milhões. No entanto, como a Amazônia ainda registra uma grande população - em constante crescimento - da espécie, a ocorrência já não é considerada tão rara. "Soltamos, na região do Trombetas, cerca de 3 milhões de filhotes por ano. Assim as tartarugas albinas deixem de ser tão raras. Todo ano vemos pelo menos uma", explicou.
O pesquisador, que já atuou no Instituto de Biologia da Universidad Nacional Autonoma de Mexico, afirmou ainda que em quase 20 anos de estudos no México viu somente dois casos parecidos com o de Nevina no país, confirmando a teoria da maior incidência na Amazônia.
O albinismo pode ocorrer em qualquer espécie animal, segundo Vogt, mas o sistema reprodutivo da tartaruga-da-Amazônia favorece esta condição. "Estes animais albinos nascem quando machos cruzam com irmãs, tias ou mães. Isto acaba se tornando mais comum entre as tartarugas-da-Amazônia porque cada ninho é fertilizado por cinco a oito machos. No rio Trombetas, 95% dos filhotes são fêmeas. Os machos costumam viver de 50 a 100 anos, então eles reproduzem muitas vezes. Sendo assim, acabam fertilizando suas irmãs e é mais provável encontrar uma tartaruga albina do que um peixe-boi albino, por exemplo", completou.
Pesquisando répteis e quelônios na Amazônia há 25 anos, Vogt destacou que já verificou albinismo também em outros animais. Outros em que a característica genética ocorre com frequência não tão rara são jiboias e muçuãs, uma outra espécie de tartaruga encontrada na região.
Nascimento de tracajás
Durante visita ao CPPQA em Balbina, o G1 registrou o "nascimento" de dois filhotes de tracajás, na praia artificial construída para a desova da espécie no local. "Agora estamos em um período de reprodução, que começa em agosto e vai até novembro. Nessa época, os agentes vão nas nossas praias artificiais por volta das 5h30 todos os dias fazer o monitoramento", afirma o engenheiro-agrônomo.
Atualmente, o criadouro do Centro de Quelônios conta com 130 tartarugas-da-Amazônia, 100 tracajás e 35 jabutis. Trabalhando no local há sete anos, Paulo Henrique Oliveira destaca ainda o trabalho feito com oito comunidades de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) no Rio Uatumã. "Todos os anos soltamos pelo menos 20 mil animais. A gente conserva as tartarugas no Rio Uatumã com o envolvimento comunitário. Aliamos o trabalho técnico ao social. Quando vamos fazer a soltura desses animais, convidamos toda a comunidade a participar desse momento", finaliza.
Em Balbina, G1 registrou o nascimento de filhote de tracajá (Foto: Camila Henriques/G1 AM) |
Fonte: G1
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