Número tende a crescer, desde que haja mais investimentos e formação de especialistas
A fauna pré-histórica de dinossauros brasileiros ainda é pouco conhecida. Apenas 17 espécies já foram descritas para o País, em meio às mais de mil conhecidas no mundo. Mas esse número tende a crescer nos próximos anos, com a formação de mais paleontólogos e a intensificação das pesquisas, segundo especialistas do Museu Nacional do Rio de Janeiro, uma das instituições de maior tradição em paleontologia no Brasil.
Alex Kellner mostra o úmero de um dinossauro achado em MT |
"Em dez anos vamos passar de 50 espécies", aposta Alexander Kellner, que já participou da descrição de vários dinossauros e pterossauros brasileiros - e tem pelo menos mais dois ou três na fila para os próximos anos. As estantes da sala de preparação de fósseis do museu estão abarrotadas de blocos de rocha embrulhada em gesso, contendo ossos de dinossauros. Muitos coletados há mais de quatro anos, em Mato Grosso. Porém nunca estudados.
"Tem um dinossauro novo aqui", afirma Kellner, apontando para a estante, entusiasmado e angustiado ao mesmo tempo por causa da falta de pessoal técnico e de recursos necessários para acelerar o trabalho.
Na mesa de preparação, dentro de um dos blocos já abertos, é possível ver várias vértebras e pedaços de costela de um saurópode (nome geral dado aos dinossauros quadrúpedes e pescoçudos) de Mato Grosso. Muito provavelmente de uma espécie nova, já que não há nenhum dinossauro descrito ainda para aquela região. Ou talvez duas. "No material já preparado encontramos dois fêmures direitos, então sabemos que temos ossos de dois indivíduos. Mas não sabemos ainda se são indivíduos da mesma espécie ou de espécies diferentes", explica Kellner.
O que mais freia a pesquisa, segundo ele, é a falta de "preparadores de fósseis" - técnicos especializados no trabalho minucioso (e demorado) de separar os ossos das rochas e sedimentos nos quais eles estão fossilizados há milhões de anos. Não existe cargo para isso nas instituições públicas, e o jeito é contratar alunos temporários para fazer o serviço, usando verba de projetos. "Pesquisador tem, o que falta é equipe técnica, e dinheiro para contratar esse pessoal", diz Kellner.
Não que esteja sobrando paleontólogos no Brasil. Pelo contrário. O Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, é a instituição que tem o maior número: quatro. Muitas universidades têm apenas um - que precisa dar aulas, organizar cursos, orientar alunos e, quem sabe, fazer um pouco de pesquisa nas horas vagas. "Talvez tenhamos uns 40 paleontólogos no Brasil. É muito pouco para um país deste tamanho", diz o paleontólogo Sergio Alex de Azevedo, do Museu Nacional. "Só o Museo de La Plata, na Argentina, tem 20", compara.
Saudades do campo. Com poucos profissionais, e todos eles sobrecarregados, sobra pouco tempo para o trabalho mais básico da paleontologia, que é coletar. "Uma coisa que nos preocupa é que os alunos mais novos vão muito pouco para o campo", diz Azevedo. "O mais importante é cavar, é coletar. Sem isso não existe paleontologia", reforça Kellner. O problema é que o trabalho de campo costuma ser demorado, logisticamente complexo e relativamente caro. Uma expedição básica de 30 dias custa pelo menos R$ 30 mil, segundo Azevedo.
O resultado é que a maior parte do conhecimento sobre a biodiversidade pré-histórica do Brasil continua enterrada, esperando para ser descoberta. "Ainda temos muitas áreas para serem exploradas", diz o paleontólogo Max Langer, da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. "Certamente há muitos tesouros ainda escondidos por aí."
Quando os dinossauros surgiram, 230 milhões de anos atrás, no início do período Triássico, a maioria das massas terrestres ainda estava conectada em um supercontinente chamado Pangea. Segundo os pesquisadores, portanto, não há razão biológica ou geológica para que o Brasil tenha tido menos espécies de dinossauros do que qualquer outro lugar da Terra. Só falta descobri-los.
"Se fosse para fazer uma última expedição de campo, iria para a Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso", sonha Diógenes Campos, 67 anos, do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral, um dos paleontólogos mais experientes, e ainda ativo, do País.
Kellner aposta suas fichas na Bahia. "Assim como a gente olha para a China hoje, vamos olhar para a Bahia, como um grande depósito de fósseis", diz. "Tem muita coisa lá. Só não tem pesquisador."
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