É uma mistura de tiranossauro e velociraptor
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A maior onda já documentada no hemisfério sul na história moderna tinha 23,8 metros de altura — Foto: Uplash |
Em maio de 2018, cientistas documentaram nas Ilhas Campbell, na Nova Zelândia, a maior onda já registrada no hemisfério sul na história moderna.
Ela media 23,8 metros de altura.
Você consegue imaginar uma onda quase 70 vezes maior?
Há 65 milhões de anos, um asteroide de 14 quilômetros de diâmetro atingiu a Terra com consequências catastróficas.
O impacto abriu uma cratera de 180 quilômetros de diâmetro, cujo centro está localizado na atual Península de Yucatán, no México.
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A onda gigante pode ter sido parte da causa da extinção dos dinossauros — Foto: Fausto Garcia/Unplash |
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Há 65 milhões de anos, o impacto de um asteroide gerou um tsunami com consequências catastróficas, dizem cientistas — Foto: dimitrisvetsikas1969/Creative Commons |
Por meio de uma simulação, os pesquisadores concluíram que o impacto do asteroide Chicxulub gerou uma onda de 1,6 mil metros de altura - quatro vezes maior que o Empire State Building, em Nova York.
Nos primeiros metros, o tsunami chegou a alcançar velocidades superiores a 140 quilômetros por hora, segundo os cientistas.
Essa onda gigante inicial gerou centenas de réplicas menores que percorreram boa parte do planeta em alta velocidade.
Nas primeiras 24 horas, os efeitos do impacto do tsunami se estenderam do Golfo do México ao Atlântico.
"O asteroide Chicxulub causou um enorme tsunami, como nunca foi visto na história moderna", afirmou Molly Range, principal pesquisadora do projeto, ao site de notícias científicas Live Science.
"Só no início deste projeto que me dei conta da escala real do tsunami".
Sem dúvida, um divisor de águas para o nosso planeta.
Fóssil brilhante foi encontrado na Austrália: transformações químicas de milhões de anos foram responsáveis pela mudança no aspecto
Redação Galileu
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Fóssil opalizado do Weewarrasaurus pobeni (Foto: University of New England) |
Já imaginou a emoção de encontrar uma nova espécie de dinossauro? E se essa nova espécie fosse preservada de forma especial? Foi o que pesquisadores australianos encontraram em uma mina de opala: uma nova espécie de dinossauro, batizada de Weewarrasaurus pobeni, que se transformou em nada menos do que um belo fóssil opalizado.
O Weewarrasaurus pobeni viveu há 100 milhões de anos, durante o período Cretáceo, quando as proximidades da mina de Wee Waa, onde foi encontrado, eram espaços verdes e exuberantes — nada parecidos com a atual paisagem desértica da região de Lightning Ridge, cidade vizinha.
No Cretáceo, essa região era uma rica planície aluvial à beira do extinto Mar Eromanga, onde a vida pré-histórica era abundante e foi preservada na lama. Ao longo de milhões de anos, a lama se transformou em arenito e, com a secura do Mar Eromanga, a acidez do material começou a aumentar e liberar sílica. Esse composto se acumulou em cavidades e bolsões — como aqueles deixados para trás por ossos cariados, por exemplo.
Quando os níveis de acidez de sílica diminuíram, esses bolsos endureceram e se transformaram em opala. O resultado de todo esse processo foram moldes de arco-íris brilhantes e cintilantes de restos antigos. Lightning Ridge é a região onde mais ocorreu opalização em todo o mundo.
O Weewarrasaurus
Além de ter um lindo fóssil, a nova espécie também é especial por ser a primeira encontrada no estado de Nova Gales do Sul em quase um século. O único fragmento recuperado do Weewarrasaurus foi o seu maxilar inferior, que possui dentes intactos capazes de dizer muito sobre as suas características e estilo de vida.
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Reconstrução artítica do Weewarrasaurus pobeni (Foto: James Kuether/University of New England) |
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A coloração azul-escura dos ovos proporcionava uma vantagem evolutiva aos dinossauros |
Mais velho e ligeiramente menor que seu parente mais famoso, espécie é importante para entender dinossauros gigantes
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Desenho de um Dynamoterror (Foto: Reprodução/Dont Mess With Dinosaurs) |
Ele também é um dos Tiranossauros mais antigos a serem descobertos na
América do Norte. Enquanto o T-Rex viveu entre 68 e 66 milhões de anos
atrás, outros da espécie datam de 77 milhões de anos atrás. Já esta
descoberta vai mais longe: 80 milhões. Seu habitat era conhecido como
Laramidia, um continente em formato de ilha que foi hospedeiro de
múltiplos predadores gigantes.
Estudiosos acreditam que o
Dynamoterror poderia explicar como a espécie evoluiu em termos de
tamanho para tornar-se os maiores predadores da época. A maior parte de
seus restos foi fragmentada e está incompleta, dificultando o estudo.
Ainda assim, foi possível encontrar um par de ossos frontais bem
preservados da parte do crânio, o que possibilitou a identificação da
nova espécie.
Fonte: Revista Galileu
Camilla Costa
Da BBC News Brasil em São Paulo*
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Paleontólogos lamentam a perda de amostras raras - caso de um fóssil quase completo de um pequeno crocodilo - que ainda seriam identificadas (Foto: Getty Images) |
"Eu preparei esse fóssil durante dois anos. Mas, agora, pode ser que a gente nunca saiba que animal era esse", disse à BBC News Brasil, com voz chorosa, a paleontóloga Beatriz Hörmanseder, uma das cientistas cuja pesquisa foi perdida no incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Ela se refere a um fóssil de um pequeno crocodilo que viveu no Brasil há 70 milhões de anos, na região da Chapada do Araripe, no Ceará. Ela tentaria determinar, como parte de seu mestrado, a qual espécie pertenciam os ossos.
"Havia grande possibilidade de ele ser uma espécie nova", lamenta.
"É raro para nós encontrarmos o fóssil completo de um animal, para compararmos com outros fósseis existentes. Esse exemplar tinha coluna vertebral, uma perna, um braço e parte do crânio, dentes pequenos e afiados. Era lindo. Tenho fotos, mas não é a mesma coisa."
O fóssil estudado por Beatriz chegou a ser comercializado por traficantes de fósseis da região, conhecidos como "peixeiros", mas foi apreendido pela Polícia Federal e passou a integrar o acervo do Museu.
Ele ainda não havia sido nomeado e identificado. Antes disso, precisava passar por uma preparação mecânica e química para ser manuseado - até porque, havia sofrido modificações feitas pelos traficantes, para vendê-lo mais caro.
"Ainda tenho alguma esperança de que ele esteja lá, já que ficava na Ala Sul, que pegou fogo por último. Mas eu usei uma camada de resina para protegê-lo, que não suporta temperaturas muito altas. Os ossos também são muito frágeis, se dilatam e se estraçalham no calor."
Administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu Nacional tinha um dos mais ricos acervos de antropologia e história natural da América Latina, com mais de 20 milhões de itens.
Muitos deles eram exemplares únicos, como fósseis humanos e de dinossauros, múmias e utensílios de civilizações antigas.
Como parte da universidade, a instituição abrigava seis cursos de pós-graduação e a produção acadêmica de dezenas de pesquisadores vindos de todo o país, nas áreas de Botânica, Zoologia, Linguística, Arqueologia, Antropologia social e Geologia.
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Fósseis e esqueletos no acervo do Museu ainda precisavam ter dados revisados e descritos - espécies novas provavelmente estão entre as perdas (Foto: Museu Nacional | UFRJ) |
Muitas das pesquisas, no entanto, dependiam da consulta ao acervo do Museu que foi parcialmente destruído pelo fogo.
Além de fósseis como o do pequeno crocodilo pré-histórico, registros de culturas indígenas extintas no país e coleções inteiras de animais brasileiros podem ter se perdido. E, com eles, parte da ciência do país.
Animais perdidos antes de serem identificados
O biólogo Geovane Souza foi de Londrina, no Paraná, para o Rio de Janeiro, para perseguir o sonho de trabalhar com dinossauros no Brasil.
"Era o que eu queria desde criança, e só poderia fazer isso no Museu Nacional", disse à BBC News Brasil.
Ele gosta, em especial, dos grandes herbívoros Titanossauros, que chegavam a ter seis metros e altura e 20 de comprimento - e foram os maiores, já descobertos, a habitar a América do Sul.
No Brasil, foram descobertas onze espécies da família de titãs, como o Adamantissauro, o Brasilotitan e o Maxakalissauro - este último, exposto no Museu Nacional.
Em seu primeiro ano de mestrado, Geovane preparava o terreno para estudar a fundo fósseis de titanossauros recuperados no Mato Grosso, nas margens do rio Confusão, em expedições de 2003 e 2006.
"O sítio de onde eles vieram era um aglomerado de vários indivíduos que morreram e cujos ossos ficaram juntos. Já sabíamos que entre eles havia pelo menos uma espécie nova de Titanossauro, mas poderíamos ter até três", explica.
Geovane iria analisar as ossadas para conseguir informações como a velocidade em que estes animais cresciam, sua dieta e sua idade quando morreram. Durante um ano, ele preparou lâminas com finas fatias dos ossos, que seriam examinadas no microscópio.
Nesta terça-feira, seguindo seu cronograma de produção, ele começaria a fotografá-las. O incêndio significa que ele não tem nenhum registro do material.
"A coordenação do curso já disse que vai me amparar legalmente, mas não dá para continuar minha pesquisa, porque não tenho mais material", afirma.
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Titanossauros brasileiros Austroposeidon, Maxakalisaurus e Gondwantitan, cujo 'retrato familiar' era montado por bióloga com o acervo do Museu Nacional (Foto: Maurílio Oliveira) |
Pelo menos um terço das quase 30 espécies de dinossauros descobertas no Brasil, segundo Geovane, estava no Museu. Ainda não se sabe o que pode ter sobrevivido ao fogo.
"É fundamental que as pessoas saibam que aquela instituição não era só um local para a visitação. Ela trazia muito para a ciência brasileira. E esse erro também é dos cientistas. Nós não divulgamos isso o suficiente."
Família de dinos gigantes que ficará incompleta
Na noite do incêndio, a bióloga Kamila Bandeira permaneceu do lado de fora do Museu Nacional até 1h da manhã.
Em 2016, Kamila conclui seu mestrado, que era a identificação do maior dinossauro já descrito no Brasil até hoje, o Austroposeidon magnificus. Hoje com 28 anos, está vinculada ao museu desde os 14, quando começou um estágio voluntário de iniciação científica no setor de paleovertebrados.
Kamila agora está desenvolvendo sua tese de doutorado, que ela descreve como um "retrato de família" dos Titanossauros, grupo ao qual pertencem dois dos dinossauros do Museu Nacional, provavelmente destruídos: o Maxakalisaurus topai e o Gondwanatitan faustoi, "um nanico", segundo descreve.
Sua pesquisa pretendia descrever a relação evolutiva entre os dinossauros desse grupo, com foco nos da América Latina. "Será que os brasileiros eram mais aparentados entre si? Estudos prévios já tinham mostrado que o Gondwanatitan era mais próximo de espécies da Argentina, por exemplo."
Kamila estava investigando outros titanossauros em outras instituições. Tinha deixado o Maxakalisaurus topai e o Gondwanatitan faustoi por último porque eles "eram de casa".
"Não sei quantas informações novas precisariam ser atualizadas dessas espécies, e talvez o mundo nunca saiba. Muita coisa sobre a anatomia desses animais ficou em branco. Faz muito tempo que eles foram descritos."
"Agora não vou ter um retrato de família completo. Vão faltar integrantes."
Insetos únicos no mundo
Para pesquisadores de áreas como a entomologia - o estudo de insetos -, a perda de espécimes (peças individuais) de borboletas e besouros que estavam no Museu também é considerada catastrófica, mesmo que eles ainda existam na natureza.
"Alguns dos espécimes que estavam lá foram usados para descrever aqueles animais pela primeira vez. Isso quer dizer que qualquer pessoa que está estudando estas espécies tem que revisar aquele exemplar inicial", explica o entomólogo Marcus Guidoti à BBC News Brasil.
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Perda de coleções de insetos abrigadas pelo Museu podem prejudicar pesquisas para além do Brasil |
"Se perdemos esses exemplares, mesmo que tenhamos fotos, a identidade dessas espécies fica inacessível na prática."
Marcus é especialista em uma família de insetos chamada Tingidae, que tem algumas espécies usadas como controle natural de pragas agrícolas em países como a Austrália.
O Museu Nacional abrigava uma coleção de insetos que, segundo ele, era uma das melhores do mundo.
"Vi muitas coleções em outros países e posso garantir que parte daquele material só era encontrado aqui, na coleção Oscar Monte. Todo mundo que tinha dúvidas precisava ir lá ou mandar o material para lá. Não sei o que vamos fazer agora."
A informação é corroborada por outros especialistas como Simeão Moraes, entomólogo e pesquisador da Unicamp, especialista em mariposas e borboletas. "Ali havia espécies raras, coletadas em ambientes que já não existem mais, provavelmente até extintas, o que torna essa perda irreparável."
De acordo com as informações que circulam entre os pesquisadores, os armários onde ficavam as coleções de insetos se quebraram e foram queimados quando o terceiro andar, onde estavam, desabou.
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Andar onde ficavam insetos e outros animais invertebrados no Museu desabou; acervo pode ter sido completamente destruído (Foto: Museu Nacional | UFRJ) |
"Oscar Monte, o autor da coleção, faleceu na década de 1940, e desde então não havia surgido no Brasil ninguém que trabalhasse com essa família de insetos de forma consistente. Eu sou o primeiro", afirma.
"Por isso, minha pesquisa foi muito afetada. Eu dependo muito de coleções de referência como aquela. Não sei o que será da pesquisa em Tingidae não só no Brasil, mas na América do Sul inteira."
Línguas desaparecidas para sempre
Para a antropóloga Adriana Facina, a perda do acervo do Museu Nacional "é comparável à perda de uma pessoa querida".
"No caso da área de Antropologia Social, perdemos cadernos de campo, entrevistas, fotografias, trabalhos desde os anos 1960. São histórias e de narrativas de pesquisadores que estudavam populações indígenas, camponeses, principalmente no Nordestes, migrantes", disse à BBC News Brasil.
"O setor de linguística perdeu registros de línguas indígenas que não têm mais falantes vivos. Perdemos para sempre."
Ainda não se sabe a extensão dos danos causados pelo incêndio, mas, no arquivos de Linguística, havia gravações de cantos indígenas feitas no final dos anos 1950, além dos únicos registros da localização de todas as etnias brasileiras feitos antes desta década.
Grande parte deles pertencia ao Arquivo Curt Nimuendaju, coleção de manuscritos e mapas feitos pelo etnólogo alemão Curt Unckel, que percorreu o Brasil estudando povos indígenas por mais de 40 anos.
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Reprodução Facebook |
Nas redes sociais, pesquisadores como o antropólogo Carlos Fausto examinavam as fotografias do incêndio e as imagens das redes de TV na esperança de encontrar indícios de que algo do arquivo foi preservado.
"Notem que o teto sobre o Larme e, se não me engano, sobre o CELIN onde está a coleção Nimuendaju não desabou. Não quero ser otimista, mas talvez tenha sobrado algo", disse Fausto em seu perfil de Facebook.
Parte dos registros, segundo Adriana Facina, foi digitalizada e ainda está acessível, mas não o suficiente. "Há muitos anos tentamos verbas para a digitalização desse material, mas nem sempre conseguíamos."
"Ainda não sabemos tudo o que se perdeu, mas o museu continua vivo em nós, vamos resistir e continuar nosso trabalho. Se a perda do museu é insubstituível, ele sobrevive em cada funcionário e pesquisador que está ali", afirma.
'Nem todo o conhecimento se perdeu'
Em meio às lamentações da comunidade científica, o egiptólogo Rennan Lemos, pesquisador-associado do Laboratório de Egiptologia do Museu Nacional (Seshat), acha que é preciso manter algum otimismo.
"Várias pesquisas em andamento de mestrado e doutorado vão ser muito afetadas porque deixamos de ter o acervo. Mas precisamos deixar claro que o conhecimento não necessariamente está perdido, porque existe um trabalho incansável feito por curadores ao longo dos anos", disse à BBC News Brasil.
"Temos catálogos das coleções e já dizemos muitos modelos 3D de fósseis e artefatos da coleção egípcia."
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Boa parte das múmias que estavam no Museu haviam passado por tomografias computadorizadas, diz pesquisador |
O Museu abrigava corpos mumificados de uma tribo indígena brasileira desconhecida, de povos nativos da Amazônia Equatoriana e de países andinos.
Além deles, o acervo continha um sarcófago de uma sacerdotisa do Egito Antigo, Sha-Amun-en-su, que foi dado de presente ao imperador D. Pedro 2º e jamais aberto.
"Não abrimos o sarcófago, mas sabíamos tudo sobre essa múmia, porque já havíamos feito tomografias computadorizadas dela e de outras", afirma Rennan.
"Está todo mundo de luto e sofrendo. A materialidade das coisas se perdeu, mas o conhecimento não vai. Vamos ter que escrever as memórias dos cientistas. Precisaremos renascer das cinzas."
*Colaborou Luiza Franco, da BBC News Brasil em São Paulo
Fonte: BBC News
Evanildo da Silveira
De São Paulo para a BBC News Brasil
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Os pterossauros - répteis voadores, parentes dos dinossauros - viveram há 80 milhões de anos |
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Rocha com centenas de ossos de pterossauros (Foto: |
Os pterossauros foram os primeiros animais vertebrados a desenvolverem a capacidade de voo ativo - batendo as asas e não planando. Parentes próximos e contemporâneos dos dinossauros, com os quais tiveram um ancestral comum, eles viveram na Terra entre 225 e 66 milhões de anos atrás, no período geológico do Cretáceo. São conhecidas mais de 200 espécies, com tamanhos que variavam de alguns metros até 12 metros de envergadura (da ponta de uma asa até a da outra), que desapareceram sem deixar descendentes entre os animais atuais.
A espécie descoberta na China foi batizada de Hamipterus tianshanensis. No chão, em posição quadrúpede, ela teria uma altura média de 1,2 metros, tamanho que seria atingido aos dois anos de idade. A envergadura poderia variar entre 1,5 e 3,5 metros. Eles tinham dentes e, pelo seu formato, os pesquisadores inferiram que eles eram carnívoros e se alimentavam principalmente de peixes.
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Os ovos de pterossauro não tinham a casca dura, mas mole, assim como os ovos de cobra (Foto: W. Gao) |
O interesse de Kellner pelo pterossauros, sobre os quais é considerado um dos maiores especialistas do mundo, não é de hoje. Vem da infância. Nascido em 1961, no principado de Liechtenstein, que fica entre a Suíça e a Áustria, na Europa, ele vive no Brasil desde 1965. O pesquisador conta que seu interesse pela paleontologia surgiu quando, ainda criança, visitou o Museu Nacional com seus pais. "Fiquei fascinado por aqueles esqueletos montados, que eram de preguiças gigantes", lembra.
A partir daí, surgiu sua vontade em entender um pouco mais da diversidade da vida que existiu no passado. "O mais interessante é que, quando criança, eu assistia muito ao desenho animado dos Herculoides, que tinha um dragão voador que me fascinava", conta. "Por ironia do destino, acabei estudando os dragões voadores, como os pterossauros também são conhecidos."
Mais tarde, se formou e se especializou em geologia e desde 1997 trabalha no Museu Nacional, no qual se dedica à pesquisa de vertebrados fósseis. Ao longo desses anos, descobriu muitas espécies, entre as quais o dinossauro carnívoro Santanaraptor placidus, encontrado na região da Chapada do Araripe, no Ceará, e o réptil voador Thalassodromeus sethi, no Cariri, no mesmo Estado. Em busca de novos achados, Kellner organiza e participa de expedições em diversas partes do mundo, inclusive na China, onde, em 2017, fez uma das suas maiores descobertas: 215 ovos de pterossauros.
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Em 2017, foram descobertos 215 ovos de pterossauros na China (Foto: W. Gao) |
Para contextualizar a importância desse feito, é preciso saber um pouco sobre a história das descobertas sobre esses répteis voadores. Segundo Kellner, o primeiro pterossauro foi descrito em 1784, mas ainda não se sabia que tipo de animal ele era. Durante os mais de 200 anos seguintes, muitos fósseis foram encontrados, mas pouquíssimos ovos. Apenas em 2004, foram achados os primeiros três, dois na China e um na Argentina. Depois, em 2014, foram encontrados mais cinco no deserto de Hami e outro na terra de Maradona e de Carlos Gardel, o que perfez nove - até a descoberta espetacular de 2017.
Essa escassez de descobertas de ovos de pterossauros ao longo da história não se deve, é claro, à falta de sorte ou de empenho dos paleontólogos, mas às próprias características deles. Diferentemente dos ovos das aves atuais, eles não tinham a casca dura, mas mole, semelhantes aos de cobras e lagartos de hoje. Assim, era mais difícil serem fossilizados e a quase totalidade se perdeu ao longo das eras.
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Pesquisadores acreditam que espécie descoberta na China era carnívora e se alimentava principalmente de peixes (Foto: W. Gao) |
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São conhecidas mais de 200 espécies de pterossauro, com tamanhos que variavam de alguns metros até 12 metros de envergadura (Foto: MR1805/Getty) |
Segundo Kellner, os estudos paleontológicos sobre os pterossauros são muito importantes, porque eles são uma espécie de elo perdido entre os vertebrados terrestres e os voadores. "Ao estudá-los, podemos tirar conclusões importantes sobre como os vertebrados que andavam em duas patas evoluíram para voar", explica. Nesse aspecto, os ovos podem fornecer informações que ajudam a formar um quadro mais completo dos conhecimentos sobre esses animais.
No caso dos que foram descobertos na China, foram feitas tomografias computadorizadas, que revelaram que nessa espécie os membros vinculados ao voo ainda não estavam bem ossificados nos recém-nascidos. "Isso demonstra que, quando esses animais nasciam, eles poderiam andar, mas possivelmente não voar", explica Kellner.
"Essa é uma informação inédita. Antes se pensava que os pterossauros já podiam voar assim que eclodiam do ovo. Isso também implica no cuidado parental. Ou seja, esses répteis voadores bebês, pelo menos nessa espécie, precisavam de algum acompanhamento dos pais para sobreviverem. E só foi possível descobrir isso com base nos ovos."
Fonte: BBC News