Evanildo da Silveira
De São Paulo para a BBC News Brasil
Os pterossauros - répteis voadores, parentes dos dinossauros - viveram há 80 milhões de anos |
Rocha com centenas de ossos de pterossauros (Foto: |
Os pterossauros foram os primeiros animais vertebrados a desenvolverem a capacidade de voo ativo - batendo as asas e não planando. Parentes próximos e contemporâneos dos dinossauros, com os quais tiveram um ancestral comum, eles viveram na Terra entre 225 e 66 milhões de anos atrás, no período geológico do Cretáceo. São conhecidas mais de 200 espécies, com tamanhos que variavam de alguns metros até 12 metros de envergadura (da ponta de uma asa até a da outra), que desapareceram sem deixar descendentes entre os animais atuais.
A espécie descoberta na China foi batizada de Hamipterus tianshanensis. No chão, em posição quadrúpede, ela teria uma altura média de 1,2 metros, tamanho que seria atingido aos dois anos de idade. A envergadura poderia variar entre 1,5 e 3,5 metros. Eles tinham dentes e, pelo seu formato, os pesquisadores inferiram que eles eram carnívoros e se alimentavam principalmente de peixes.
Os ovos de pterossauro não tinham a casca dura, mas mole, assim como os ovos de cobra (Foto: W. Gao) |
O interesse de Kellner pelo pterossauros, sobre os quais é considerado um dos maiores especialistas do mundo, não é de hoje. Vem da infância. Nascido em 1961, no principado de Liechtenstein, que fica entre a Suíça e a Áustria, na Europa, ele vive no Brasil desde 1965. O pesquisador conta que seu interesse pela paleontologia surgiu quando, ainda criança, visitou o Museu Nacional com seus pais. "Fiquei fascinado por aqueles esqueletos montados, que eram de preguiças gigantes", lembra.
A partir daí, surgiu sua vontade em entender um pouco mais da diversidade da vida que existiu no passado. "O mais interessante é que, quando criança, eu assistia muito ao desenho animado dos Herculoides, que tinha um dragão voador que me fascinava", conta. "Por ironia do destino, acabei estudando os dragões voadores, como os pterossauros também são conhecidos."
Mais tarde, se formou e se especializou em geologia e desde 1997 trabalha no Museu Nacional, no qual se dedica à pesquisa de vertebrados fósseis. Ao longo desses anos, descobriu muitas espécies, entre as quais o dinossauro carnívoro Santanaraptor placidus, encontrado na região da Chapada do Araripe, no Ceará, e o réptil voador Thalassodromeus sethi, no Cariri, no mesmo Estado. Em busca de novos achados, Kellner organiza e participa de expedições em diversas partes do mundo, inclusive na China, onde, em 2017, fez uma das suas maiores descobertas: 215 ovos de pterossauros.
Em 2017, foram descobertos 215 ovos de pterossauros na China (Foto: W. Gao) |
Para contextualizar a importância desse feito, é preciso saber um pouco sobre a história das descobertas sobre esses répteis voadores. Segundo Kellner, o primeiro pterossauro foi descrito em 1784, mas ainda não se sabia que tipo de animal ele era. Durante os mais de 200 anos seguintes, muitos fósseis foram encontrados, mas pouquíssimos ovos. Apenas em 2004, foram achados os primeiros três, dois na China e um na Argentina. Depois, em 2014, foram encontrados mais cinco no deserto de Hami e outro na terra de Maradona e de Carlos Gardel, o que perfez nove - até a descoberta espetacular de 2017.
Essa escassez de descobertas de ovos de pterossauros ao longo da história não se deve, é claro, à falta de sorte ou de empenho dos paleontólogos, mas às próprias características deles. Diferentemente dos ovos das aves atuais, eles não tinham a casca dura, mas mole, semelhantes aos de cobras e lagartos de hoje. Assim, era mais difícil serem fossilizados e a quase totalidade se perdeu ao longo das eras.
Pesquisadores acreditam que espécie descoberta na China era carnívora e se alimentava principalmente de peixes (Foto: W. Gao) |
São conhecidas mais de 200 espécies de pterossauro, com tamanhos que variavam de alguns metros até 12 metros de envergadura (Foto: MR1805/Getty) |
Segundo Kellner, os estudos paleontológicos sobre os pterossauros são muito importantes, porque eles são uma espécie de elo perdido entre os vertebrados terrestres e os voadores. "Ao estudá-los, podemos tirar conclusões importantes sobre como os vertebrados que andavam em duas patas evoluíram para voar", explica. Nesse aspecto, os ovos podem fornecer informações que ajudam a formar um quadro mais completo dos conhecimentos sobre esses animais.
No caso dos que foram descobertos na China, foram feitas tomografias computadorizadas, que revelaram que nessa espécie os membros vinculados ao voo ainda não estavam bem ossificados nos recém-nascidos. "Isso demonstra que, quando esses animais nasciam, eles poderiam andar, mas possivelmente não voar", explica Kellner.
"Essa é uma informação inédita. Antes se pensava que os pterossauros já podiam voar assim que eclodiam do ovo. Isso também implica no cuidado parental. Ou seja, esses répteis voadores bebês, pelo menos nessa espécie, precisavam de algum acompanhamento dos pais para sobreviverem. E só foi possível descobrir isso com base nos ovos."
Fonte: BBC News
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