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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Cobra-Norato: uma lenda popular na Amazônia

Esta lenda produziu uma obra-prima da Literatura Brasileira Modernista, Cobra Norato, de Raul Bopp. Poema de descrição mitológica da Amazônia, publicado em 1931. 

Sugestão de leitura feita pelo blog de origem


"...Quero contar-te uma história:
Vamos passear naquelas ilhas decotadas? 
Faz de conta que há luar.
A noite chega mansinho.
Estrelas conversam em voz baixa.
O mato já se vestiu.
Brinco então de amarrar uma fita no pescoço 
e estrangulo a cobra.
Agora, sim,
me enfio nessa pele de seda elástica 
e saio a correr mundo..."

O texto a seguir é de Theobaldo Miranda Santos, 
no livro "Lendas e Mitos do Brasil". 
A obra está disponível para consultas na Biblioteca SEMA em Macapá



Lenda da Cobra-Norato

Uma índia que vivia entre os rios Amazonas e Trombetas teve dois filhos gêmeos. Quando os viu, quase morreu de susto. Não tinham forma humana. Eram duas serpentes escuras. Assim mesmo, a índia batizou-as com os nomes de Honorato e Maria. E atirou-as no rio, porque elas não podiam viver na terra.
As duas serpentes criaram-se livremente nas águas dos rios e igarapés. O povo chamava-as de Cobra-Norato e Maria Caninana. Cobra-Norato era forte e bom. Nunca fazia mal a ninguém. Pelo contrário, não deixava que as pessoas morressem afogadas, salvava os barcos de naufrágios e matava os peixes grandes e ferozes.
De vez em quando, Cobra-Norato ia visitar sua mãe tapuia. Quando caía a noite e as estrelas brilhavam no céu, ele saía d'água arrastando seu corpo enorme. Deixava o couro da serpente à beira do rio e transformava-se num rapaz bonito e desempenado. Pela madrugada, ao cantar do galo, regressava ao rio, metia-se dentro da pele da serpente e voltava a ser Cobra-Norato.

Sugestão de leitura feita pelo blog de origem

Maria Caninana era geniosa e malvada. Atacava os pescadores, afundava os barcos, afogava as pessoas que caíam no rio. Nunca visitou sua velha mãe. Em òbidos, no Pará, havia uma serpente encantada, dormindo, dentro da terra, debaixo da igreja. Maria Caninana mordeu a serpente. Ela não acordou, mas se mexeu, fazendo a terra rachar desde o mercado até a igreja.
Por causa dessas maldades, Cobra-Norato foi obrigado a matar Maria Caninana. E ficou sozinho, nadando nos rios e igarapés. Quando havia festa nos povoados ribeirinhos, Cobra-Norato deixava a pele de serpente e ia dançar com as moças e conversar com os rapazes. E todos ficavam contentes.
Cobra-Norato sempre pedia aos conhecidos que o desencantassem. Bastava, para isso, bater com ferro virgem na cabeça da serpente e deitar três gotas de leite de mulher na sua boca. Muitos amigos de Cobra-Norato tentaram fazer isso. Mas, quando viam a serpente, escura e enorme, fugiam apavorados.
Um dia, Cobra-Norato fez amizade com um soldado de Cametá. Era um cabra rijo e destemido. Cobra-Norato pediu ao rapaz que o desencantasse. O soldado não teve medo. Arranjou um machado que não cortara pau e um vidrinho com leite de mulher. Quando encontrou a cobra dormindo, meteu o machado na cabeça da bicha e atirou três gotas de leite entre seus dentes enormes e aguçados.
A serpente estremeceu e caiu morta. Dela saiu Cobra-Norato, desencantado para sempre.

Se você se interessa por estes assuntos pode gostar também de:


Lenda da Cobra Norato (Stella Leonardos) - Editora Villa Rica
 Livrinho de 16 páginas, indicado ao público infanto-juvenil

"Encantarias: A Lenda da Noite" - Quadrinhos com a arte do desenhista paraense Otoniel Oliveira (em 54 páginas, faz um passeio por  mitos da Amazônia. Entre eles, algumas páginas mostrando Norato e Caninana) 

Divagações:

Percy Harrison Fawcett foi um famoso explorador inglês que, no início do século passado, fez algumas expedições pelos interiores de um Brasil desconhecido e muito selvagem ainda (também em outros países americanos). Em seus relatos, o encontro com sucuris de até 20 metros (ou mais), capazes de tirar um homem para fora de uma canoa (descrição literal em registros). Foi o inspirador, a seu amigo e escritor Conan Doyle, da célebre obra O Mundo Perdido (1912). E, olha só, este explorador se tornou uma lenda também, pois sumiu em uma expedição na Serra do Roncador.





... Assim, percebemos uma das origens de tantas lendas amazônicas:

“A amazônia selvagem sempre teve o dom de impressionar a civilização distante”.
Euclides da Cunha (À margem da história)


Referências sobre esta lenda em:

portalsaofrancisco.com.br 
bethccruz.blogspot.com
colencionadora-de-historias.blogspot.com.br 

Fonte: http://casteloroger.blogspot.com.br

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