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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Crocodilo mineiro comia dinossauros


O crânio do Pissarrachampsa sera: crocodilo vivia na terra
Uma nova espécie de crocodilo terrestre pré-histórico foi descoberta em Minas Gerais.
Com cerca de 3 metros de comprimento, o animal possuía uma aparência bem diferente dos seus primos modernos e, acredita-se, se alimentava de dinossauros.O Pissarrachampsa sera* pertence a uma linhagem que foi completamente extinta, e não possui descendentes entre os crocodilos modernos.
Os restos do animal, que viveu há cerca de 70 milhões de anos, foram estudados por uma equipe de pesquisadores da Universidade McGill, no Canadá, e da Universidade de São Paulo- Ribeirão Preto.A equipe foi contatada pela Sociedade Brasileira de Paleontologia após um alerta de possível ocorrência de fósseis na cidade de Campina Verde, no Triângulo Mineiro.  
“Ele pertence a um grupo de crocodiliformes bem diverso, chamado Baurusuchidae, que é encontrado principalmente em rochas do período Cretáceo da América do Sul e África”, disse à INFO Online Felipe C. Montefeltro, um dos autores do trabalho publicado na PlosOne. O brasileiro de 26 anos é aluno de doutorado em Biologia Comparada da FFCLRP-USP e está no décimo mês da sua bolsa de um ano na universidade canadense, trabalhando ao lado do professor Hans Larsson.


Embocadura

Crocodilo desenhoA partir dos ossos achados, especialmente do estudo do crânio, os pesquisadores conseguiram estimar seu tamanho (cerca de 3 metros) e comportamento. “Com base na morfologia da espécie, bem como nas rochas da região, ele seria um animal terrestre e não semi-aquático com os crocodiliformes atuais”, diz o pesquisador.
Além do ambiente, uma série de características anatômicas distinguem a nova espécie dos crocodilos modernos, especialmente o formato geral do focinho e os dentes. Uma analogia bastante utilizada é a de que, pela forma da cabeça, os crocodilos Pissarrachampsa se pareciam com cachorros selvagens.  “Enquanto os crocodilos atuais possuem um focinho achatado, largo e com um grande número de dentes - 20 ou mais em cada lado, a nova espécie, bem como uma série de outras da mesma época, possui um focinho alto e com um reduzido número de dentes: apenas 7 em cada lado”, diz Montefeltro.
Mas a dentadura limitada não parecia ser um problema para a alimentação dessa espécie. Embora estabelecer a dieta exata de um animal extinto seja difícil, os pesquisadores têm razões para suspeitar que ele fosse um devorador de dinossauros. “Ele era um carnívoro, sem dúvidas, e as principais presas de um carnívoro deste porte nesta época incluiriam dinossauros e outros crocodilos”, explica o pesquisador.
A descoberta da nova espécie deixa algumas perguntas em aberto. Para respondê-las, já está sendo feita uma reconstrução 3D do crânio e de suas cavidades internas. O jovem pesquisador brasileiro também pretende continuar estudando a evolução do grupo e os outros materiais encontrados em Minas. Mas, para quem sempre gostou de fósseis, isso não parece ser um grande trabalho. “Quando criança, eu era um destes dino-nerds...”, diz Montefeltro.


* “Piçarra” é um tipo de rocha, e “Champsa” é a versão latina da palavra grega que designa “crocodilo”. Já “Sera” é latim para “tarde” (uma vez que o fóssil quase não foi encontrado) e também uma homenagem à bandeira do estado de Minas Gerais, na qual está escrito “Libertas Quæ Sera Tamen" (Liberdade, ainda que tardia). 

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