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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Mitos e lendas que cercam as serpentes

Tradução: Maurice Cezário (Brasília, DF)
Adaptação: O Guardião do Estronho 

Introdução

As cobras possuem características que sempre fascinaram os seres humanos, desde o começo dos tempos. Algumas dessas características acabam por levar a supertições, lendas e até mesmo a mitos religiosos.

As cobras fazem parte de um seleto grupo de animais, que são capazes de conceder uma morte rápida e dolorosa ao mesmo tempo, com uma simples mordida.

Outra característica interessante desses répteis é a troca de pele, que foi inclusive notado por culturas anciãs, que viam isso como um ato de ressureição e renovação do espírito.

O ato de fitar, os olhos que não piscam, o movimento flexível da ausência de pernas, o corpo gelado e o deslizamento das escamas foram inspirações para numerosos mitos humanos e lendas espetaculares sobre as cobras.

Veremos aqui algumas referências a esses répteis, em lendas diversas de alguns povos antigos.


 Gregos 
  • De acordo com alguns estudiosos, Dionísio (Deus do vinho e da fertilidade) tinha forma de cobra.
  • Eurydice foi assassinada por uma picada de cobra no dia do seu casamento e Orpheu (Músico e poeta da mitologia) tentou trazê-la de volta.
  • Laocoon e seus dois filhos foram mortos pelas serpentes de Minerva.
  • Nosso símbolo médico de duas cobras envolvendo uma equipe médica vem da Antiguidade, mitologia grega. De acordo com a lenda, a figura mítica Asclepius (o filho de Apollo e Coronis), Deus da Medicina, descobriu a medicina observando uma cobra usando ervas para trazer outra cobra de volta a vida. Por Asclepius trazer seus pacientes de volta dos mortos Zeus matou o curador com um raio. Como pedido de Apollo, Asclepius foi colocado entre as estrelas como Ophinchus, o portador das serpentes.
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     Gregos / Romanos 
    • Hércules, quando bebê, matou duas das serpentes de Hera. Para sua segunda tarefa, Hércules matou a criatura Hydra.
    • Python (Jibóia) era uma serpente que vivia nas cavernas do Monte Parnassus e foi morta por Apollo (Deus do Sol), que depois, ou fundou o oráculo sagrado em Delphi, ou o tirou do domínio de Phyton. De acordo com uma versão, a ciumenta Hera enviou Python para ferir Leto, inceminada por Zeus. Zeus ajudou Leto a escapar, e logo após ela deu a luz a Apollo e Artemis. Quando Apollo ainda era bebê, ele vingou erroneamente a mãe, matando Python com suas flechas, que ele apenas usava contra os animais fracos. Então ele mudou seu nome para Pythius e organizou os Jogos Pythian - os quais testavam os homens em força, rapidez dos pés, e corrida de carruagem - para celebrar a vitória. Em outras versões Apollo matou Python simplesmente porque isso o impediria de fundar o oráculo.
     Hebreus 
    • Uma serpente tentou Eva.
    • Satan é frequentemente identificado como uma serpente. 
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       Hebreus / Arábicos
      • Pessoas olhando para a cobra de bronze de Moisés foram curadas de picadas de cobra. 
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         Romanos
        • As 'Fúrias Romanas' tinham cabelos de cobra, como Medusa.
        • Júpiter (nome romano para Zeus), sob o disfarce de um touro, tinha raptado Europa, filha de Agenor, o rei da Fenícia (reino antigo na região oriental do Mediterrâneo). Agenor ordenou que seu filho Cadmus fosse em busca de sua irmã, e que não voltasse sem ela. Cadmus obedeceu e procurou por muito tempo em locais distantes, mas não a encontrou. Como não tinha coragem de voltar fracassado, consultou o oráculo de Apollo para descobrir em qual continente ela estaria. O oráculo informou que ele encontraria uma vaca no campo, e que ele deveria seguí-la por qualquer caminho que ela por ventura seguisse, e onde ela parasse, ele deveria construir uma cidade e chamá-la de Tebas. Cadmus mal tinha saído da caverna Castalian, onde o oráculo ficava, quando ele viu uma vaca nova andando lentamente adiante dele. Ele a seguiu de perto, oferecendo ao mesmo tempo orações para Phoebus. A vaca continuou caminhando até passar o raso canal de Cephisus e parou na planície de Panope. Lá ela ficou parada; levantando sua larga testa para o céu, encheu o ar com seus mugidos. Cadmus agradeceu, e beijou a terra estranha, e então, levantando os olhos, cumprimentou as montanhas que o cercavam. Desejando fazer uma oferenda para Jupiter, ele enviou seus criados para procurar água potável para o ritual. Perto dali tinha um bosque antigo que nunca tinha sido profanado por um machado, e no meio dele tinha uma caverna com a entrada quase que totalmentre fechada com arbustos. Seu teto era em forma de arco, e debaixo dele uma fonte de pura água. Na caverna ocultava-se uma horrenda serpente com cabeça encrespada e escamas reluzentes como ouro. Seus olhos brilharam como fogo, seu corpo era inchado de tanto veneno, e ela vibrava uma língua tripla, e mostrava três fileiras de dentes. Tão logo os Tyrians mergulharam seus jarros na fonte, as águas fizeram um ruído. A brilhante serpente levantou a cabeça e pronunciou um medonho assobio. Os vasilhames caíram de suas mãos, o sangue deixou suas faces, e eles tremeram todos os membros do corpo. A serpente, contorcendo seu escamoso corpo, levantou a cabeça na altura das árvores mais altas , e quando os Tyrians cheios de terror não podiam nem lutar nem voar, ela destruiu alguns com seus dentes, outro enrolando neles, e outros com suas respiração envenenada. Cadmus levantou uma enorme pedra e jogou com toda força na serpente. Um bloco desse tamanho teria sacudido o muro de uma fortaleza, mas não causou danos no monstro. Cadmus então jogou sua lança que penetrou nas escamas da serpente, perfurando as suas entranhas. Sentindo muita dor, e mais violento por isso, o monstro virou a cabeça para ver o machucado, e tentou arrancar a arma com a boca, mas o quebrou, deixando a ponta de ferro irritando sua carne. Seu pescoço estava inchado, e espuma e sangue cobriram sua mandíbula. A respiração de suas narinas contaminaram o ar em volta. A serpente se debateu em círculos, e despencou na terra. Enquanto ela se movia adiante, Cadmus recuou, segurando sua lança no sentido contrário a mandíbula aberta. Ela abocanhou a arma e tentou morder a ponta de ferro. Cadmus, percebendo sua chance, empurrou a lança no momento que a cabeça do animal veio contra o tronco de uma árvore, conseguindo assim atravessar a lança até o outro lado. Seu peso curvou a árvore quando ela lutou agonizando até a morte.

        Indios Sul-Americanos
        •  A inundação Yanomamo recuou quando uma mulher mergulhou nela e se tornou o monstro-cobra. O primeiro Ceubo emergiu como uma anaconda e se tornou humano após trocar de pele. A Desana emergiu do submundo numa canoa, o qual tinha um corpo de anaconda.

        Sumérios
        •  Uma serpente roubou a erva da imortalidade de Gilgamesh.

        Astecas / Mesoamericanos
        • Huitzilopochtli empunhava uma serpente como espada.
        • Os astecas conheciam sua nova terra natal pelo sinal de uma águia comendo uma cobra.
        • Tezcatlipoca e Quetzalcoatl transformaram-se em serpentes e esmagaram Tlaltechutli, dividindo-o em dois - a Terra e o Firmamento.
        • Quetzalcoatl era conhecido como o Mestre da Vida pelos astecas da America Central. Ele era o Deus Serpente..

        Africanos
        •  Algumas culturas africanas endeusavam Pythons (Jibóias) e consideravam a morte de alguma, um sério crime.

        Indianos
        •  Na India, as cobras eram vistas como reencarnações de importantes pessoas conhecidas como Nagas.

        A história natural das cobras e a evolução dos répteis


        As cobras são répteis e o ramo da zoologia que lida com essa classe de animais é conhecido como Herpetologia. A palavra Herpetologia vem do grego 'herpeton', que significa 'coisa rastejante'.

        Antigamente, para a zoologia, todos os animais rasteiros (como os anfíbios e os répteis) eram classificadas nesse grupo das 'coisas rastejantes' e a palavra 'Herpetologia' foi criada para compreender todos eles.

        Por um lado, os répteis formam uma classe de animais vertebrados intermediários entre os peixes e os anfíbios, mas por outro lado, estão entre os vertebrados superiores (pássaros e os mamíferos).

        Os répteis modernos incluem os crocodilos, as tartarugas, os lagartos e as cobras - sem esquecer os lagartos como a Tuatara, uma simples espécie que tem uma ordem só para ela. Cobras e lagartos estão intimamente ligados e pertencem a uma mesma ordem ('Squamata'), com 3 sub-ordens.

        Os ancestrais dos atuais lagartos e cobras apareceram juntos com os primeiros dinossauros durante o tardio período triássico, quase 200 milhões de anos atrás, apesar dos registros de fósseis dessa época serem escassos. Os modernos lagartos (sub-ordem Lacertilia) parecem ter se separado da ordem primitiva Eosuchia durante o período Triássico, mas o fóssil mais antigo que liga os modernos lagartos aos seus ancestrais é originário do início do período jurássico, algo em torno de 140 milhões de anos atrás. Durante esse período, o primeiro ancestral dos pássaro surgiu.

        É geralmente aceito que as modernas cobras (sub-ordem das serpentes) surgiu dos lagartos no começo do período Cretáceo, algo em torno de 130 milhões de anos atrás, porém não existe uma evidência em fóssil que conecta essas duas classes. Infelizmente, pequenos lagartos e cobras não se transformam em bons fósseis, pois os pequenos e delicados ossos tendem a se quebrar ou se espalham. Paleontologistas estão sempre encontrando vários ossos, mas sem as outras partes para completar o antigo animal, o trabalho deles é extremamente complicado. Pode-se comparar o trabalho dos paleontologistas com o mais difícil quebra cabeça, com várias peças fundamentais faltando. Devido a essa evidência incompleta de fósseis, a evolução das cobras é baseada largamente em teoria.

        O mais antigo fóssil conhecido de criaturas que se parecem com as cobras são do baixo período cretácio, 130 milhões de anos atrás. Eles eram pequenos e pesados e tinham uma mistura das características dos lagartos e das cobras. Infelizmente, não há evidência intermediária que ligue essas criaturas com as cobras modernas. Uma das teorias mais aceitas é a que diz que todas as cobras evoluíram dos lagartos escavadores. Certos lagartos primitivos devem ter começado a escavar o substrato para conseguir escapar dos predadores e talvez para caçar outras criaturas subterrâneas (como algumas espécies modernas ainda o fazem). Essa existência subterrânea, após incontáveis gerações, significariam que algumas modificações ao corpo deles seriam necessárias para que o animal continuasse obtendo sucesso.

        No escuro mundo subterrâneo, os olhos eram de pouco uso, então eles foram gradualmente sendo absorvidos até só sobrarem vestígios, sendo adequados para detectar apenas a diferença entre luz e escuridão. As aberturas dos ouvidos devem ter sido um estorvo no ambiente subterrâneo, então, eles também foram perdidos. Em outro nível de evolução, algumas dessas criaturas escavadoras acharam conveniente voltar para a superfície. Num ambiente mais claro, os olhos de novo tornaram-se importantes e então se desenvolveram novamente (apesar das pálpebras terem sido completamente perdidas, os olhos se mantinham sob uma escama protetora transparente chamada de 'brille'.)

        Com os membros quase que totalmente perdidos, os répteis desenvolveram um método de locomoção serpentino. Os ouvidos externos foram perdidos, mas as cobras modernas desenvolveram um mecanismo eficiente para detectar vibrações através de superfícies sólidas. Adaptações adicionais que provavelmente se desenvolveram através do período de escavação incluem um sufisticado método para sentir odores e um senso muito acurado de toque.

        Muitas das modernas cobras ainda tem esses atributos. De acordo com a teoria que diz que as cobras evoluíram dos lagartos cavadores, não há família de lagartos modernos que poderiam ser entendidos como um canal entre os lagartos e as cobras. Até mesmo os 'amphisbaenians', sub-ordem Amphisbaenia, que não tinha pernas, (vistos como os ' lagartos que viraram cobras'), foram agora classificados com a criação de sua própria sub-ordem. Apesar de terem algumas características similares com algumas encontradas nas cobras e nos lagartos, eles têm outras características únicas que sugerem evolução a parte.

        Se a teoria da escavação é correta, ela só poderá ser provada se, e quando fósseis completos das formas intermediárias forem encontrados. 

        Texto original: The Snake.Org

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